Este é um assunto que não penso
muito. Na verdade, gosto da minha vida, porém, sei que ela é muito simples, e
não parece fazer sentido que alguém tenha inveja da forma que vivo.
Mas, conheço pessoas que tem
receio da inveja. Elas não contam nada para ninguém, por medo que alguém as
inveje, e seus planos sejam destruídos. Respeito quem pensa assim, porém, eu
não creio nisso.
Diz um grande historiador que a
inveja é um pecado envergonhado, logo, ninguém confessa que sente do outro. Na
minha observação, nos meios em que convivo, percebo ser uma verdade, pois nunca
ouvi alguém admitir que sentiu inveja de alguém. Eu mesma, nunca achei que
senti.
Pensando sobre a inveja, cheguei
à conclusão que o conceito não era muito claro para mim. Então, fui estudar.
Fiquei assombrada com a quantidade de material sobre o assunto. Dentre eles,
gostei deste resumo: todas às vezes que nos comparamos com alguém e nos
sentimos diminuídos, a inveja ocorre. Também, ela é uma dor que nasce quando olhamos
para a nossa vida e sentimos que algo está nos faltando.
Uau! Pensando apenas neste
resumo... E lembrando-me de Eva que tinha tudo no Éden e ainda caiu no conto da
serpente que algo lhe faltava... Senti um nó na garganta.
Sempre acho difícil avaliar a mim
mesma. Dói mais do que avaliar outras pessoas. Contudo, cheguei à conclusão
que, com a comparação, não tenho muito problema, já estou numa fase da vida em
que sei que só posso me avaliar a partir da minha própria história. Mas, quanto
ao que falta, vi que por vezes sinto dor, por não ter condição de fazer o que
acho que seria necessário. Fiquei chateada. Que descoberta desagradável! Eu,
que pensava não sentir nenhuma inveja.
Buscando direção para saber o que
fazer com que descobri, voltei meus olhos novamente para o Gênesis, na busca de
entender o que ocorreu com Eva, ao comer do único fruto, não permitido no
Jardim.
Fiquei me perguntando como alguém
com a vida perfeita e plena de alegria, morando num belo jardim, visitado por
Deus no fim do dia e sem problema de relacionamento com Adão, deseja a única
coisa que não pode ter? Como não foi capaz de avaliar que em sua vida nada
faltava?
Sei que somos guardados por
mistérios e só conheceremos como somos conhecidos, no futuro. Todavia, o texto
traz uma verdade bem clara. A serpente em sua estratégia levou Eva a tirar os
olhos de Deus, e voltar o seu olhar, para si mesma. Neste instante, desejou a
única coisa que não tinha (e jamais poderia ter), o ser igual a Deus. E ao
desobedecer comendo do fruto, é como se dissesse para Deus que tudo que recebeu
não era tão bom assim, e, que tinha o direito de ser igual a Deus. Ao pensar
assim, deixou de dar glória a Deus, propósito para o qual foi criada. Neste
instante, creio, nasceu a inveja.
Que tragédia!!!
Por alguns momentos, minha alma
ficou perturbada... Fui me dando conta que todas às vezes que eu volto os olhos
para mim e vejo o que me falta, desejo o que não tenho, e alimento a inveja que
já vive dentro de mim. E quando isso ocorre, sem temor, e nem sempre com
palavras, falo para Deus que desconsidero o dom da vida, a saúde que tenho, a
minha imagem no espelho, os recursos e trabalhos, as pessoas ao meu lado.
Que perigo! A inveja tem raiz
profunda.
O
escritor de Eclesiastes tem razão, “a inveja é a podridão dos ossos”2, porque me faz focar no que não
tenho. Ela tem o poder de tirar os meus olhos de todo o bem recebido.
Sem ver o que já tenho, deixo de louvar e agradecer a Deus, tornando-me amarga.
E ao carregar o fardo da amargura, cala em mim, toda glória devida a Deus. Neste
instante, deixo de cumprir o propósito para o qual fui criada.
Que tragédia!!!
Descubro que dar glória a Deus
não é apenas falar algumas palavras de louvor em uma oração. É mais profundo. É
uma postura diante da vida. É me dar conta que tenho muito mais que julgo
merecer. É crer de verdade que não tenho, diante dEle, nenhum direito para
reivindicar.
O caminho não me parece
fácil.
Todavia, percebo que viver sem
dar glória a Deus é ficar e manter-me doente em todas as dimensões da vida. Meu
coração não encontra âncoras. Sem a clareza do cuidado pleno de Deus em minha
vida, sou capaz de mergulhar fundo nas águas da ansiedade e angústia. E até
mesmo, o mais leve vento, pode abalar-me.
Então, decido que vale a pena a
jornada na certeza que Deus fez tudo certo. Nada está atrasado. Mesmo agora,
fora do jardim e vivendo os embates das relações humanas, Deus em Cristo, me
abençoa com toda sorte de bênçãos3, e, me permite entrar em Sua
Presença, onde pode posso buscar todo suprimento para a falta que o pecado
gerou mim4.
Quanta graça. É mesmo um rio de
águas vivas, a trazer o jardim de volta, por onde corre dentro de mim.
Roseli de Araújo
Escritora e Psicóloga
Referência bíblicas:
1. Gênesis 3;
2. Provérbios 14:30;
3. Efésios 1:3;
4. Hebreus 4:16.