Tenho aprendido que pior do que estar perdido é não se
reconhecer perdido.
O perdido é tantas vezes como o filho pródigo na casa do
pai. Deseja um mundo lá fora que não tem nada a oferecer, sem ser capaz de
avaliar o quanto recebeu durante toda sua vida. Não consegue ver o quanto está
guardado pela autoridade justa e carinhosa do pai, e sai a buscar na liberdade
o que ela não pode oferecer.
O perdido despreza o colo da mãe, as brincadeiras com os
irmãos, a presença de todos os que lhe servem na casa em que lhe foi permitido
nascer. Ignora as festas vividas, o riso na mesa, o teto confortante que o
abriga.
O perdido ambiciona encontrar outros que lhe permitam
viver tudo que tiver vontade, sem avaliar que os fins de alguns desejos podem
esmagar uma alegria sonhada.
O perdido, dos seus lábios, gratidão não jorra e nem é
capaz de reconhecer que só vive o que se quer, porque está bancado por aquele
que sustenta a vida.
O perdido rompe com aquele que ama, na ilusão que
encontrará outros amores. E ao exigir o que não tem direito, semeia como se a
colheita não fosse chegar.
Olhando para o filho pródigo, fico com a certeza que quem
está perdido vive como se fosse uma estrada de lama em dia de chuva, onde o
perigo se concreta. Pois, o perdido não vê onde está e fica sem perceber que não
se encontrou. Não reconhece o não saber a direção e segue na estrada errada,
gritando a pleno pulmões que sua escolha é a certa. Sem admitir que o seu saber
nada faz na vida que se faz, se torna incapaz de avaliar que a força e os
recursos que julga ter são apenas ilusões de uma proteção que o tempo
destruirá.
O triste do perdido que não sabe que está perdido é que,
por si, nada poderá fazer. Sem se vê, não pode recalcular a rota, nem
reconhecer o coração endurecido pela vaidade de se achar onde não está, e de
não buscar o Senhor enquanto se pode achar(1).
Olhando para o Filho pródigo, fico a pensar: onde estou
perdida? Existe em mim algum olhar que não vê? Qual é o direito que eu julgo
ter? Em que tenho deixado o pai para viver o que suponho ser bom? Diante das
perguntas que faço, minha alma suspira por uma clareza que me livre de mim.
Confesso: Não quero ter o triste fim de quem não se viu
perdido, embora eu saiba que é possível, como foi ao filho pródigo, encontrar o
caminho de volta. E, graças a Deus, pela graça que nos permite recomeçar. Mas,
o que prefiro é nunca sair da casa do pai que para mim foi conquistada, vivendo
como gente que sabe que por Cristo foi encontrada.
(Texto Baseado em Lucas 15)
Escritora e psicóloga
Roseli de Araújo
Referência
1.Isaias 55:6