quinta-feira, junho 05, 2025

O pior de está perdido

 



Tenho aprendido que pior do que estar perdido é não se reconhecer perdido.

O perdido é tantas vezes como o filho pródigo na casa do pai. Deseja um mundo lá fora que não tem nada a oferecer, sem ser capaz de avaliar o quanto recebeu durante toda sua vida. Não consegue ver o quanto está guardado pela autoridade justa e carinhosa do pai, e sai a buscar na liberdade o que ela não pode oferecer.

O perdido despreza o colo da mãe, as brincadeiras com os irmãos, a presença de todos os que lhe servem na casa em que lhe foi permitido nascer. Ignora as festas vividas, o riso na mesa, o teto confortante que o abriga.

O perdido ambiciona encontrar outros que lhe permitam viver tudo que tiver vontade, sem avaliar que os fins de alguns desejos podem esmagar uma alegria sonhada.

O perdido, dos seus lábios, gratidão não jorra e nem é capaz de reconhecer que só vive o que se quer, porque está bancado por aquele que sustenta a vida. 

O perdido rompe com aquele que ama, na ilusão que encontrará outros amores. E ao exigir o que não tem direito, semeia como se a colheita não fosse chegar.

Olhando para o filho pródigo, fico com a certeza que quem está perdido vive como se fosse uma estrada de lama em dia de chuva, onde o perigo se concreta. Pois, o perdido não vê onde está e fica sem perceber que não se encontrou. Não reconhece o não saber a direção e segue na estrada errada, gritando a pleno pulmões que sua escolha é a certa. Sem admitir que o seu saber nada faz na vida que se faz, se torna incapaz de avaliar que a força e os recursos que julga ter são apenas ilusões de uma proteção que o tempo destruirá.

O triste do perdido que não sabe que está perdido é que, por si, nada poderá fazer. Sem se vê, não pode recalcular a rota, nem reconhecer o coração endurecido pela vaidade de se achar onde não está, e de não buscar o Senhor enquanto se pode achar(1).

Olhando para o Filho pródigo, fico a pensar: onde estou perdida? Existe em mim algum olhar que não vê? Qual é o direito que eu julgo ter? Em que tenho deixado o pai para viver o que suponho ser bom? Diante das perguntas que faço, minha alma suspira por uma clareza que me livre de mim.

Confesso: Não quero ter o triste fim de quem não se viu perdido, embora eu saiba que é possível, como foi ao filho pródigo, encontrar o caminho de volta. E, graças a Deus, pela graça que nos permite recomeçar. Mas, o que prefiro é nunca sair da casa do pai que para mim foi conquistada, vivendo como gente que sabe que por Cristo foi encontrada.

(Texto Baseado em Lucas 15)

Escritora e psicóloga

Roseli de Araújo

Referência

1.Isaias 55:6

domingo, maio 25, 2025

O Pai de Lucas 15

 




Ele tinha em suas mãos o poder de entregar seu filho ao apedrejamento, mas ao invés disso, deu a ele a parte da herança, que, naquele momento, não era dele. Deixando-o ir, tendo todo poder de segurá-lo, ainda financiou sua louca desobediência, certo de que o filho desperdiçaria tudo que levaria. Afinal, quem não aprendeu a agradecer o que recebeu, dificilmente saberá administrar para o seu próprio bem.

Certamente, o coração do pai ficou estraçalhado.

Enquanto deixava ir, lutou com os pensamentos de que aquele filho era jovem demais, e gostaria tanto de livrá-lo do futuro trágico que estava à frente. Seriam tantos perigos... Contudo, contemplou para além do que o filho lhe impunha. Sabendo que a única chance que tinha de recuperá-lo era deixá-lo partir. Ele já estava perdido em si e o seu sonho de liberdade já o esmagava nas cercas de sua família, provocando nele o desejo de outros ares, asfixiando nele, o lar que o acolhia. O pai sabia que, se ficasse a amargura, o destruiria.

Sem a mínima vontade de consentir sua partida, o pai disse sim.

O filho acreditava que precisava provar das suas escolhas. E partindo sem nenhuma certeza do que o caminho lhe reservaria, saiu pulando de alegria. O pai ficou encostado no batente da porta em busca de apoio, enquanto a escolha do filho lhe atravessava a alma.

Por vezes, sinto que saio saltitando em busca do que eu quero, enquanto Deus me sinaliza para não ir. E são muitos os momentos em que prefiro aprender com meus erros do que ouvir aquele que me ama, indo muitas vezes em busca da vida que já tenho em sua casa.

Mas, graças a Deus, o meu pai é o pai de Lucas 15. Ele me deixa ir e escolher, provar do que não é manjar, fazer o que me trará uma dor que eu não precisava ter. Vendo-me como nem eu mesmo me suponho. Financiando com paciência o que não quer para mim, sabe da dureza do meu coração de pedra, do quanto acredito que os meus olhares sobre a vida são os melhores. E é com frequência diária que mesmo discordando de mim, mantém-me por sua maravilhosa graça.

E ao me permitir voltar do que me levou para longe, o pai de Lucas 15 faz meu coração de pedra se esfarinhar. Mesmo quando fico por alguns momentos desgostosa comigo mesma, por perceber a loucura do que faço ao desobedecer, descubro que a rua da sua imensa graça já estava construída para que eu pudesse voltar para casa. Que maravilha! Em sua graça, ele nunca me deixa perdida.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga clínica

domingo, maio 18, 2025

O problema da falta

 

                                   

Eles discorriam sobre o não ter pão. Pareciam esquecidos dos milagres que foram feitos, ontem. E não entenderam nada quando Jesus falou do fermento dos fariseus. Que triste, eles estavam ocupados com a falta.

Será que eu sou assim?

Ele me salvou da morte eterna, do diabo, de mim mesma, e não compreendo ainda?

Ele é a minha rocha, em quem existo e me movo, e não compreendo ainda?

Ele é o caminho que me livra dos atalhos, e não compreendo ainda?

Ele é a verdade que me liberta de todo saber que não me leva a nada, e não compreendo ainda?

Ele é a vida que me livra da aridez da morte, e não compreendo ainda?

Ele é o pão que eu sei que se partiu pelos seus discípulos de todas as gerações, e não compreendo ainda?

Ele é água que me tira toda sede de outras buscas, e não compreendo ainda?

Ele é o descanso nos dias em que o cansaço me rouba as forças, e não compreendo ainda?

Ele é o meu amigo que se manifesta na mesa quando a incredulidade me causa angústia e não compreendo ainda?

Ele é aquele que atravessa as paredes dos meus medos, dando-me certeza da sua presença, e não compreendo ainda?

Ele é o bom pastor que não me deixa na solidão dos profundos vales, onde ninguém pode passar comigo, e não compreendo ainda?

Ele é o meu amigo sentado ao lado, quando Judas está na mesa, e não compreendo ainda?

Ele é aquele que vem ao meu encontro mesmo sabendo dos meus pecados, e não compreendo ainda?

Ele é quem se fez pecado por me amar, e não compreendo ainda?

Ele é àquele que sempre advoga as minhas causas impossíveis, e não compreendo ainda?

Ele vai voltar como prometeu em sua palavra, e colocará tudo em ordem, e não compreendo ainda?

Por vezes me pego pensando: por que me ocupo da falta do pão? Qual falta sentida que não foi preenchida por aquele que a tudo preenche?

A resposta que ecoa é que estou sem memória de todos os seus milagres feitos, ontem, por mim.  E, sem lembrança, fico a lamentar, mesmo tendo. 

Quão perversa é a incredulidade que carrego no peito.  Percebo que é fácil seguir chorando pelo leite que já tomei, sem considerar a provisão já recebida. Também, é fácil viver sem ver o que Jesus está me mostrando e sem ouvir o que está me dizendo.

Diante desta minha verdade, eu sei que preciso me apropriar de tudo que nele já recebi. E hoje, ao abrir sua palavra, escutei a sua voz mais uma vez a me perguntar: não compreendeu ainda?

Quem sabe nessa sua obstinação, meus olhos se abram e meus ouvidos ouçam. E, eu que estava ocupada pela falta, fique livre da incredulidade, que tem me roubado a aprender dele tudo que deseja ensinar a mim.

E você, qual é a sua falta? E o que tem escutado de Jesus?

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga Clínica

(Texto baseado em Marcos 8:14-21)

 

quinta-feira, março 20, 2025

Na praia

 




Todos estão confusos. Sentem-se vazios... A vida sem a presença do mestre Jesus os deixava com a sensação de não saber ao certo o que fazer.

Dentre eles, Pedro tinha o coração ainda mais dolorido. É difícil enfrentar a realidade de ser menos, quando se pensou, ser mais. Pelo mestre, acreditou que conseguiria dar a própria vida. Mas, como todos os outros, o negou.

Naquela noite, sentindo um peso no peito frente ao futuro que nada o acenava. Ele disse, ‘vou pescar’. Os outros discípulos que estavam na praia juntaram-se a ele. Afinal, eram homens do mar, antes de andar com o mestre. E como também não sabiam como recomeçar, fazer o que se sabe podia ajudar a encontrar de volta o caminho.

Eles pescaram a noite toda. Nenhum peixe apanharam. Exaustos e com fome, retornam à praia ao amanhecer, ainda mais confusos... vazios...

Mas, o mestre Jesus estava na praia. Contudo, os sentimentos confusos, ansiedade quanto ao futuro, a fome presente, o cansaço de lutar e nada ter, roubaram deles ver o que tanto precisavam. Eles não o reconheceram.

Mas, Jesus estava na praia naquele amanhã, em que a esperança, parecia uma fumaça a se perder no tempo.

Não se esqueça.

Naquela manhã, Jesus estava na praia.

Psiu... vou repetir:

Naquela manhã, Jesus estava na praia.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga


(texto baseado em João 21 e publicado a primeira vez no dia 11/04/23)

quinta-feira, março 13, 2025

Carta a um pai (texto cedido por uma paciente)


                  Foto do site:  https://funerariasantacasa24h.com.br/como-superar-a-perda-de-um-pai/

Sinto saudade de você pai, ainda que esteja aqui. Saudade do riso de graça, dos passeios nos rios, das viagens esperadas com paradas para lanche, dos doces quando chegava do trabalho, da cantiga do serrador, das rodas com violão e sanfona.                

Por vezes, me vejo procurando-o. Para onde foi mesmo? Não o encontro mais. Então percebo que todas as minhas lembranças ficaram perdidas no meu mundo da infância.  E pergunto a mim mesma, o pai da infância onde esta?

Agora, confesso não gosto muito, hoje, do que faz. Não quer mais uma conversa de mão dupla, e tem como único assunto a si mesmo. Não traz mais os doces, antes cobra até o que já tem. Não mais reúne rodas de pessoas, agora vive isolado na sua caverna. Não senta a mesa nem mesmo em dias de festas, preferindo, na maioria das vezes, seus programas na televisão... E fico com a impressão que se perdeu do mundo dos afetos.

Hoje, também, já com cabelo brancos a tingir minha cabeça, muitas vezes, escuto minha criança a reclamar a saudade do pai.  E uma dor emerge ao sentir que o afeto se dissipou com o tempo.

Todavia, sei que nem tudo que sinto é uma verdade. Somos o que conseguimos ser. E reconheço que me deu muito além do que recebeu dos seus pais. E, tenho orgulho de ser sua única filha.

Então, calo minha criança, ao reconhecer que ainda é meu pai do jeito que sabe ser. E do seu jeito, ainda foi, é e sempre será, o pai que preciso.

(Texto de uma paciente)


quinta-feira, fevereiro 20, 2025

O passarinho e o meu guarda roupa

 



Era uma manhã bem tranquila. Eu estava lendo, quando de repente um barulho me assustou. Olhei e vi um passarinho no chão. Ele havia entrado voando e bateu na porta do guarda-roupa.

Aproximei com a intenção de ajudá-lo, e ao me ver tentou voar, mas estava desnorteado, e sem conseguir, desistiu de lutar.

Ao ver que nada tinha quebrado, o aconcheguei em minhas mãos, ele se aquietou. Eu fiquei ali encantada com aquele pequenino tão frágil em minhas mãos.

Sua visita tão desajeitada me fez pensar que, na vida, muitas vezes, em decisões que tomamos, batemos em muitas portas de guarda-roupas.

Pensando estar na direção e na velocidade certa, ficamos desnorteados quando nos defrontamos com barreiras que são intransponíveis.

É impressionante como decisões erradas têm o poder de nos paralisar, nos levando, muitas vezes, a nos impor uma jornada solitária e recheada de medos. Decepcionados em não perceber as barreiras antes, nossa tendência é pensar: Como não vi o guarda-roupa? Como não medi a distância certa? Por que fui tão rápido? E são tantos os porquês que nos atormentam...

Decisões erradas nos levam a ficar desconfiados da nossa capacidade. E como aquela criança que passou a ter medo da janela porque um dia pulou, por pensar ser um super-herói e quebrou a perna, assim somos nós, passamos a ter medo de errar e cremos que só vive bem quem nunca erra. Todavia, esta crença pode nos quebrar a alma.

Não sei onde aprendemos que devemos acertar em tudo. A verdade é que a vida nem sempre sinaliza as curvas, os abismos, as fronteiras, e é preciso caminhar para aprender o caminho.

Temos que aceitar que viver é decidir. E que depois de certas decisões podemos experimentar a sensação de que, de agora em diante, ‘o daqui para frente é só para trás’. Porém, este sentimento deveria servir para ficarmos quietos até entendermos onde foi que erramos, para então corrigirmos a rota à nossa frente. Todavia, muitas vezes ficamos como aquele passarinho, amuados e desconfiados de qualquer um que se aproxima com suas mãos estendidas.

Aquele passarinho, eu o levei ao pé de pitanga, que fica de frente à janela do meu quarto, e o coloquei em um galho. Ele ficou quietinho por alguns minutos, depois se sentiu seguro e, quando voltei lá, já tinha voado.

Confesso. Fiquei feliz em tê-lo ajudado a voltar ao seu propósito.

Eu creio que assim o Senhor faz conosco.

Quando ficamos desnorteados e sem conseguir lutar, Ele nos leva para pitangueira da nossa vida e nos coloca num galho seguro. Ele não fica levantado os porquês dos nossos erros. Ele deseja que a gente fique apenas um pouco de tempo quieto, para percebermos o que Ele fez e tem feito por nós. Tempo só para refletir e pedir perdão por um dia termos confiado que não iríamos errar. Tempo apenas para perceber que Ele estende as mãos para gente como eu e você. Tempo para ver que em Cristo somos perdoados. Tempo para podermos encontrar nEle a segurança perdida e voltarmos a voar na direção do seu propósito.

Creia, Ele se alegra quando você volta a voar.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga clínica

 

 

domingo, fevereiro 09, 2025

A vida sempre triunfa

 


Quando algo por dentro já não é o mesmo, tudo muda.

Desde que minha mãe partiu, sinto que não sou mais a mesma. Até o ambiente já não parece ter as mesmas cores. A casa dela, a qual, hoje, eu moro, já não a reconheço. E o que era tão familiar agora parece estrangeiro.

Um dia depois do seu enterro, ao acordar, uma sensação de estar perdida me invadiu por inteiro. Pensei, e agora? Fiquei deitada ali, buscando dentro de mim razões para poder levantar. 

Impressionada com a roda da morte que parecia ter atropelado muitos dos meus olhares para a vida, sai da cama. Naquela manhã, eu tinha agendada uma sessão de psicoterapia. E ao abrir o computador, sabia o que compartilhar com minha psicóloga. Ao terminar a sessão, entendi que minha mãe, embora tivesse partido, seguia dentro de mim. Então, agora, presente apenas em mim, a forma de me relacionar com ela mudou para sempre. E ao compreender o que mudou, vi que tinha chão para seguir.

De vez em quando, me pego conversando com minha mãe. Pergunto: Por que foi tão cedo? Às vezes, digo para ela: sua casa perdeu a alegria sem suas risadas. No início, sentia que não estava certa ao conversar com ela. Mas aprendi que converso com a mãe que ficou em mim.

A verdade é que tenho aprendido com as pessoas que já perdi que sempre vou amá-las. Embora o amor que nos uniu me tornou vulnerável e trouxe muita dor quando partiram, sei que a vida teria sido vazia sem o amor por elas.

Esse saber calou e cala a minha alma, mergulhando-me num silêncio que se tornou a minha mais confortável poltrona.

Sim, a morte é muito dura. Ela bagunça a nossa vida por inteiro. Contudo, mesmo atropelando nossos olhares pela vida, ela nunca será maior que a vida recheada de amores.

A Deus toda a gratidão pelas pessoas que amei, amo e amarei.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga clínica

sábado, fevereiro 01, 2025

O último documento

 



Naquela fila de espera, para retificar o meu nome que estava errado na certidão de óbito de minha mãe, olhei ao redor e o cartório me pareceu frio e sem alma. 

Ao segurar aquele documento sem querer, me deparei com o que já sabia: Nada aqui é meu, nem mesmo o meu último documento. Ali, experimentei a dura realidade deste mundo capitalista, onde até a dor se torna mercadoria.

Este pensamento fez com que um misto de sentimentos me vestisse por inteiro. Tive que respirar fundo para conter as lágrimas diante dessa vida tão cara, e, ao mesmo tempo, tão sem valor.

Transtornada por dentro, mas por fora aparentemente calma, fiquei a remoer por que o TER na maior parte do tempo, é o senhor da nossa agenda? Se nada levaremos, nem mesmo aqueles objetos que guardamos ao longo da vida com tanto carinho, por que nos preocupamos em gastar nosso tempo acumulando bens que ficarão para outros desfrutarem? Ou desfazerem sem nenhum sentimento? Qual é a agenda que vale a pena viver? 

Enquanto este questionamento, como um gigante sem piedade me arrastava para um caos interno, me lembrei da agenda de Jesus ‘quando deixou a Judeia e retirou-se outra vez para a Galileia, porque era-lhe necessário atravessar a província de Samaria’1 e encontrar uma mulher que não era bem-vista pela sua comunidade por ter ‘tido 5 maridos, e estar no seu sexto relacionamento sem se casar’2.   

Também me lembrei do encontro com seus discípulos, com a mulher adúltera, com o gadareno, com os muitos doentes que curou, com as multidões, com jovem rico, com Zaqueu, com a mulher que lhe tocou, com a mulher sírio-fenícia, com o centurião, com Lázaro, Marta e Maria, e tantos outros3. De fato, ‘Ele se fez carne para habitar entre nós’4. Ele veio para buscar e salvar o perdido5. Ele veio para encontrar pessoas como eu e você. Ele não gastou sua vida acumulando tesouros como costumamos fazer.

Uau! Que agenda complicada e ao mesmo tempo fantástica.

Sentada ali naquele lugar que teimava em congelar minha alma, fui aquecida e desafiada pela agenda de Jesus. Ela é capaz de dar sentido a tudo. Até mesmo ao meu último documento que não será meu, e sim dos meus.

Saí daquele cartório de cabeça erguida, não precisando conter o sorriso que brotou em mim.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga clínica

            

                Referência bíblica:

1.                                    1. Evangelho João 4:3,4;

2.                                    2. Evangelho João 4:18;

3.                                   3. Os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João;

4.                                    4. Evangelho de João 1:14;

5.                                    5. Lucas 19:10

 

segunda-feira, janeiro 06, 2025

 


2025.

Vasculho. E fico sem encontrar dentro de mim nenhuma pergunta para este início de ano. Parece estar claro o que deve ser feito.

Percebi que não preciso de novos planos. Antes, careço de rever com cuidado os velhos e avançar neles.

E a palavra que me desafia diante do que ainda não foi feito, é sempre a velha e boa disciplina. Não sei você, mas assusto-me com o quanto é fácil compreender sua importância, tanto quanto é difícil de fazer dela, o feijão com arroz, de todo o dia.

A verdade é que a impressão que tenho é que são muitos os leões para serem mortos em um só dia... E o passar dos anos tornou muitos deles ainda mais difíceis de serem vencidos. Entretanto, ao fitar a arena da vida, descubro que a primeira ação que desejo não é mais matar leões.

Sinto precisar mais, muito mais, de erguer os olhos.  Fitar os céus. Matar minha velha natureza e alinhar meu coração com a boa, perfeita e agradável vontade do Pai1.

Não estou aqui a defender uma vida sem alvos. Longe disso!

O que desejo é aprender com a morte, esta professora implacável, a passar a página de projetos fúteis e remir o tempo, de forma que a minha vida se revista do que é eterno.

2025.

Meu anseio é tarefa árdua. Contudo, sei que não estou sozinha.

 

Escritora e Psicóloga

Roseli de Araújo

 

Referência:

1.     Romanos 12:1

sexta-feira, novembro 29, 2024

Tempos

 

          


Como um adulto que esqueceu por completo sua infância, o tempo não brinca de dá tempo.

Acordamos e o dia parece correr. O final do mês chega. Meu Deus!!! Já é fim de ano. E o tempo corre sem fazer curva, enquanto nós o vivemos dentro do nosso próprio ritmo. Por vezes, um descompasso se instala. Mas, o tempo não negocia paradas.

Neste tempo, que minha mãe partiu, eu estou aqui tentando reorganizar a casa. Descobri que embora ajude a demarcar o novo ciclo, o que eu trago por dentro é o que precisa ser mais uma vez reorganizado. O estranho é que nada é mais como antes, enquanto muita coisa segue do mesmo jeito.  E sem saber dimensionar o tudo que mudou, percebo a presença de sentimentos novos, nesta casa vazia que hoje jorra a saudade dela.

Na minha busca de lidar com o que sinto, faço amizade com o tempo. Descubro que o tempo é o único que lida com dores que só ele pode carregar. E mesmo sendo este adulto que não gosta de brincar, de dar de si, me carrega em sua viagem sem descanso.

E sigo consolada. Alegrando-me na experiência de ser abraçada pelo meu senhor e salvador Jesus.

Sei que ele é o Senhor do tempo. Ele voltará e o seu povo será reunido com ele1. Ele é o que cria o tempo certo para cada propósito2. Ele é o porto no qual estou ancorada.

Embora este tempo, é tempo de lágrimas que correm sem pedir licença, por vezes me incomodando por não conseguir contê-las, bem sei que nenhuma cai sem a viva esperança a bater no meu peito.

E faço como Jeremias diante de uma dor que sangra, trago a memória o que pode me dar esperança3.  E vivo as palavras de João, o apóstolo, que a vitória que vence o mundo, é mesmo a nossa fé em Cristo4.

A Deus toda glória pelo consolo.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga clínica

Referências bíblicas:

1. Apocalipse 22:

2. Eclesiastes 3:1;

3. Lamentações de Jeremias 3:22

4. IJoão 5:1-4

 

 




  

quinta-feira, junho 27, 2024

o que nos rouba a crítica?




               Dizem que existem críticas construtivas. Eu creio. Mas, não sei você, eu as escuto muito pouco.

O que percebo é a constante presença de críticas pequenas e sutis, como cupim em madeira. Um comentário aqui, outro acolá... E de repente, o que pareci tão bom ficou mais ou menos; o mais ou menos, ruim; e o ruim, sem solução; e a casa cai, relações se desmoronam.

O mais terrível é que as críticas que fazemos, na maioria das vezes, não passam de tempo perdido que gastamos com assuntos, os quais, não movemos nenhum dedo para mudar. E o tempo não brinca, antes corre sem nos esperar.

Confesso. Não sei se a crítica leva a paciência embora, ou se a falta de paciência promove a crítica. Todavia, tenho certeza que se alguma paciência for exigida no caminho, a crítica vai destruí-la, por completo.

O grande problema que nem sempre nos damos conta é que ao criticar podemos revelar que somos como aquela mulher que falava das roupas sujas estendidas no varal da vizinha, esquecendo-se de que não havia lavado suas janelas. Tudo que podemos estar fazendo é falando de nós mesmos: nossa omissão, nossa arrogância, nossa falta de sabedoria. Então, por que seguimos cultivando-a como uma bela rosa no jardim?

Desconfio que a crítica pode ser parte da nossa eterna luta para ser melhor em alguma coisa. Vivemos o medo (creio que na maioria das vezes inconsciente) de sermos muito menos do que poderíamos ser. E a crítica pode ser um caminho fácil e rápido para nos fazer sentir especiais.

Todavia, o pior das críticas é o que se perde: o melhor das pessoas. Enquanto, o outro perde o melhor de nós. E como é triste ver relações preciosas ou que poderiam nascer serem totalmente arrasadas.

Mas, não precisamos nos manter neste caminho. Jesus mais uma vez nos deu a direção para nos livrarmos desta sutileza que torna a vida azeda. Ele nos diz para não julgarmos1, deixarmos de lado o que pensamos que estamos vendo, andarmos com outro - muitas vezes em silêncio - para compreendê-lo.

Fazendo assim, a vida segue com a possibilidade de ser vivenciada em seu maior encanto: O encontro com o outro.

Sem as críticas pequenas e sutis que não levam a nada, Jesus nos ensina a construir um mundo onde a vida tem espaço para brotar, crescer e florescer.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga clínica

Referência:

1. Mateus 7:1-3

 

quinta-feira, junho 06, 2024

O jardim e a insatisfação

Depois que o jardim que plantei floresceu, sempre que possível, sento na garagem para tomar café, curtindo sua beleza. E, nesta semana que passou, numa tarde, encantada com as flores lilás com o miolo branco, fotografei na esperança de registrar a beleza que estava vendo, mas a câmera não captou. Chamando minha atenção a diferença entre as flores que eu via e a foto delas, fiquei ali pensando na vida...

E me dei conta de que, nestes últimos dias, eu estou como aquela câmera que não consegue captar toda a beleza que sei que há em minha vida. Talvez por isso, uma insatisfação sorrateira tem se instalado em meu peito.

Digo em minhas orações: Obrigada Pai, por tudo, mas, na verdade do íntimo, eu pergunto: por que certas respostas nunca chegam? Por que temos que lutar diariamente, por anos, com os mesmos problemas? Por que parece que em algumas áreas não avançamos?

Percebi que é grande a batalha para não deixar a insatisfação instalar quando minhas expectativas são frustradas. E, mais acirrada, se torna quando se reveste de uma espiritualidade superficial, onde resisto a não visitar minha verdade.

Não é fácil lutar com o que está dentro, e sentada frente ao meu jardim, vi minha alma tentada a se dobrar ao peso de não encontrar as respostas.  Assustei-me com o quanto meus olhos podem se tornar maus, levando-me a experimentar as trevas1.  Ansiedade, estresse, depressão pode se tornar uma realidade, se eu não deter esta insatisfação que faz meus olhos não ver a beleza da vida que já recebi.

A verdade é que não ver o belo cansa e amarga a alma.

Cansada, corro o risco de parar e perder o que não para (o movimento de Deus na terra). Amarga, contamino a muitos, desanimando-os pelo caminho. Que tragédia!!!

Na busca de não me afundar em minhas insatisfações, percebi que minha maior tentação é ir em busca de estratégias, métodos, projetos, sonhos sem desfrutar do que já tenho em Cristo.  E descubro que nada é mais miserável do que isso.

Pois, nEle, somente nEle, os rios de águas vivas correm. É nEle que devo permanecer para desfrutar de tudo o que já conquistou para mim. É nEle, que o propósito é certo, e nada pode me tirar deste caminho. E toda vez que fixo meu olhar nEle, minhas insatisfações se dissolvem. 

Naquela tarde, no jardim, eu decidi manter os meus olhos nEle e deixar que a beleza das flores que estava vendo me falasse do seu cuidado já dispensado a mim. Quando me levantei para trabalhar naquele fim de tarde, dei minha última olhada para o jardim, e fiquei ainda mais encantada com a beleza que eu vi.

Roseli de Araújo 

Escritora e Psicóloga

Referência:

1. Mateus 6:22

 

 

sexta-feira, maio 24, 2024

 




Naquela manhã de domingo, no fim da atividade com as crianças, uma menina chegou bem pertinho de mim e baixinho disse: ‘Tia, eu não gosto do meu pai, ele é cachaceiro’. Surpreendida por sua declaração, passei os braços em volta dela e respondi que iria orar para que o papai deixasse de beber. Também, prometi que visitaria a sua casa. Ela assentiu com seus olhos tristes e foi embora.

Meu coração apertado ficou. Nossas crianças estão sofrendo. Os campos brancos para ceifa, estão tão perto de nós como aquela menina esteve de mim.

Mas, parece que não queremos erguer os olhos. Ver pode incomodar. Ver pode nos trazer compaixão. Ver pode nos fazer querer ser a resposta.

Em meio à minha angústia, lembrei de Isaías. Creio que ele viu os campos quando Deus perguntou a quem enviaria. Ele quis ir. Ele entendeu a grandeza da missão. Ele não deu desculpas do tempo, do trabalho, da família, dos projetos pessoais. Ele se dispôs a deixar a sua agenda. Ele quis ser a resposta para sua geração. Ele não tinha toda a revelação que já temos do reino, mas, com o que sabia, compreendeu que valia a pena perder a vida por amor ao seu Senhor.

Hoje, perdemos a noção de quem é o Senhor. Falamos que é Jesus quem manda, contudo, vivemos a vida que queremos, e não a que Ele propôs em sua palavra. E ainda nos enganamos, pensando que Ele aceita que vivamos de cabeça baixa, olhando só para o nosso campo...

A verdade, é que muitas crianças seguem como aquela menina de olhos tristes, esperando que a igreja se levante e leve a única palavra que pode dar esperança. E Jesus, não nos aceitará de mãos vazias.

Roseli de Araújo

Escritora e Psicóloga clínica