A VIDA CONTADA EM TEXTO - ROSELI ARAÚJO
Escrevo para compartilhar minhas obras literárias.
segunda-feira, outubro 27, 2025
Hoje faz um ano que ela partiu
segunda-feira, setembro 01, 2025
Hoje o dia é meu
Hoje, no espelho, vi refletido o sorriso da minha alma. Pálpebras caídas? E daí, se o coração está feliz?
Sinto-me abençoada com a saúde que possuo. Levantei-me com minhas pernas, caminhei com meus pés, segurei a xícara de café com minhas mãos, contemplei tudo o que me cerca, senti o aroma do café, saboreei e experimentei o gosto da tapioca. Que privilégio é viver num corpo que não me impede de me mover. Sim, eu sou verdadeiramente abençoada.
De outro continente, meu marido me ligou com amor; meus irmãos da igreja me levaram para um passeio em comemoração; em casa, um café da manhã preparado com carinho me recordou que estou cercada de afeto. Que festa é ter gente boa ao lado!
Relembrei meus dias passados e, até mesmo diante dos arrependimentos, já não me sinto ocupada pela tristeza. Pelo contrário: alegro-me por ter tido a coragem de ser quem eu quis ser. Não digo com isso que conquistei tudo — nada disso. Apenas aceitei os limites do que pude fazer e avancei no que foi possível. Mas tive a ousadia de declarar: “É isso que quero viver.”
Sei que a vida que vivo está guardada em um mistério profundo. Sim, o medo às vezes me visita. Mas eu creio no Deus que tudo vê e controla, e assim o medo vai cedendo espaço à certeza dos braços que me acolhem.
Roseli de Araújo
domingo, agosto 17, 2025
O dia é dele
Hoje, o
Orlando completa mais um ano.
Quem convive
com ele sabe que sua vida tem sido dedicada à palavra, à missão nasce e à
igreja.
Em casa,
sempre posso contar com ele. Ao seu lado, não sei o que é solidão e nem o que é
não ter braços a me amparar. Ele vai ao supermercado, gosta de cozinhar. Que
delícia é a sua comida.  Eu o perturbo com minha dificuldade com
tecnologia, mas tem paciência de andar muitas milhas para me ensinar. Gosta de
me levar e buscar nos lugares, e me sinto segura com sua presença.
Muito me impressiona com sua vida sempre em movimento. E na sua correria com muitas agendas, nunca
lhe falta tempo para ser servo de alguém.
Como qualquer
outra pessoa, traz suas lutas, mas pela graça de Deus tem vencido todas. E
muito desejo aprender do que ele naturalmente já tem.
Sobre Orlando,
eu poderia escrever tantas coisas que me sinto perdida em meio às muitas
palavras construídas ao longo da nossa história. Mas, eu quero que saiba que
desejo de todo meu coração que experimente a vontade de Deus em todos os seus
caminhos e seja a pessoa mais feliz do mundo.
 E não
esqueça: você vive no meu coração no lugar mais amarelo.
Com amor de mulher,
Feliz
aniversário!
Roseli
segunda-feira, agosto 11, 2025
Meu marido e o cartão de vacina
O cartão de vacina estava perdido. Meu marido tinha certeza que havia colocado na pasta dos seus documentos, mas não encontrou. Intrigado, seguiu procurando em outras pastas, gavetas, envelopes e nada achou.
Precisando do cartão para uma viagem, vasculhou seu guarda-roupa até o fundo e notou que havia uma caixa de objetos velhos. Era um lugar improvável. Todavia, como quem acredita que é a última chance, antes de procurar uma solução mais difícil, abriu a caixa. Para sua surpresa, lá estava o cartão.
Meu marido havia colocado seu cartão de vacina onde não deveria, o que o levou a procurar onde não estava. E na vida, também, corremos este risco. Podemos colocar o cartão das nossas expectativas em pessoas e situações, e quando vamos procurar nelas, o que guardamos com tanta certeza, só encontramos o vazio do que pensávamos que estaria lá.
Quando isso ocorre, ficamos perdidos sem saber o que fazer. Por vezes, nós insistimos em ver o que não está lá, todavia a realidade do vazio se impõe como a força da gravidade. A verdade é que tudo colocado onde não deveria, não tem como ser achado.
Portanto, preste atenção onde coloca sua confiança, seu carinho, sua amizade, sua lealdade, seus recursos, seus dons, para não passar pela decepção de procurar e não encontrar o que depositou com tanta certeza. Pois, ao guardar no lugar certo o cartão das nossas expectativas, evitaremos a sensação de estarmos perdidos, tristezas e muitas dores.  
Uma vez que todos nós podemos colocar o cartão das nossas expectativas em pessoas e situações erradas, ao descobrir, não pire, respire. Nada de ficar parado a contemplar o vazio. Meu marido só encontrou o cartão de vacina, porque decidiu considerar que poderia ter colocado em um lugar que não se lembrava. Portanto, reconheça que pode ter errado e vá em busca de outros lugares.  
Acredite.
Sempre haverá boas pessoas e situações onde poderá colocar o cartão das suas expectativas.
E que Deus nos ajude.
Roseli de Araújo
Psicóloga clínica
quarta-feira, julho 23, 2025
Posso descansar
‘A
eternidade é um dia longo’1.
Coloquei
na terra um vaso e plantei uma semente com todo o cuidado que exige um plantio.
Ao lançar a semente na terra, meu coração pulsou numa expectativa feliz na
possibilidade da vida.
Um,
dois, três, quatro e no quinto dia a semente brotou. Nossa?! Diante da vida, a
vida pulsa em meu peito. E, como uma menina feliz por ganhar uma boneca, eu me
alegrei.
Dentre
todas as reflexões que me visitam ao plantar uma semente e vê-la germinar, o pensamento
que não sou eu a controlar a vida me traz uma calma de quem está deitada junto
às águas de descanso2.
Descubro
que eu só posso pegar as sementes que a mim foram confiadas, preparar a terra,
lançar a semente e regar.  Este é todo o meu trabalho. Mas, a vida que se
fará ou não, que maravilha, eu não tenho nenhuma possibilidade de comandar.
Sim,
eu tenho o que fazer. Não obstante, até o que tenho é semente que brotou de uma
vida que não gerei. Então descubro que a vida que nasce é sempre um lembrete do
Deus que está a tudo controlar.
E a
ansiedade, esta visita insistente a trazer tensão, se dissipa como a neblina no
raiar da manhã.
Sim,
a eternidade é um dia longo... Eu nela vivo. Sei que tenho tempo para ver a
vida sempre florescer.
E
você?
Roseli
de Araújo
Escritora
e Psicóloga
Referência:
1.       Richard Baxter.
Livro Media estas coisas, página 55.
2.       Salmo 23: 2,3
 
 
 
domingo, julho 20, 2025
Da prisão ao Palácio
Tudo começou quando seu pai fez a ira nascer no coração dos seus irmãos por tratá-lo como preferido. E seus irmãos irados o venderam, tornando o José, filho do papai, em escravo na terra do Egito.
Agora, seus sonhos de grandeza não faziam nenhum sentido quando chorava a traição dos irmãos e a saudade do pai e do irmão querido. E o futuro que estava diante dele se tornou sombrio.
Mas ergueu os olhos com uma fé insistente e fez do lugar que foi levado, terra a plantar a liberdade.
E o tempo que o levou a dias tão duros, passou como passa para todos.
E quando tudo começou a ir bem, foi preso por fazer o certo e passou a ver o sol pelas grades da injustiça. Mais uma vez a vida pareceu conspirar contra ele. 
Todavia, da prisão ao palácio, José seguiu fazendo o certo e pavimentou um futuro que não podia contemplar com os olhos. Não se perdeu tentando encontrar culpados. Não cultivou a amargura do porquê comigo. Não aceitou que o seu fim podia ser determinado por inimigos.
Antes, José conquistou amizades. Fez de onde passou um lugar melhor. Usou o dom recebido, decifrando sonhos que não eram os seus. Mantendo firme a certeza que não estava sozinho. 
José, com certeza, não podia supor toda a trama do propósito que estava sendo tecida. Contudo, guardou seus sonhos dados por Deus como uma semente que nenhuma terra seca poderia contê-la.
Da prisão ao palácio os dias não são nada fáceis. Mas, quem decidi viver como José, verá o Senhor no silêncio do dia mais tenebroso. E vendo-o, saberá que sua vida cumpre propósitos até alcançar o porto.
sexta-feira, julho 18, 2025
Temos Pai?
Abrimos o
aplicativo do banco. E uma angústia visita. A vida está cara. As compras do
básico têm o preço de objetos de luxo, e saímos do supermercado assustados com
as poucas sacolas. As contas não param de chegar. E quando conseguimos, com
muito custo, pagar as contas de um mês, outro se inicia.
A noite chega,
e como é difícil dormir quando se carrega o peso da falta de dinheiro. Sem
sono, pelas pré-ocupações do que fazer para encontrar saída deste túnel escuro,
ficamos a pensar no que inventar... E a paz parece fumaça que se perdeu no
tempo.
Contudo, tem
um mal ainda mais cruel que nos assola. A necessidade de ter o que não é
necessário. E corremos atrás de tantas coisas que já perdemos de vista a
verdade que a vida não consiste na quantidade de bens que conquistamos ao longo
do caminho1.
Dizemos: A
nossa casa é o céu. Todavia, vivemos em prol de construir patrimônios nesta
pátria que não é a nossa. Nem mesmo o dia do luto é capaz de nos advertir que
desta vida nada vamos levar e saímos de um velório preocupados com o que temos
que conquistar.
Buscar o reino
de Deus e a sua justiça para todas as coisas serem acrescentadas2 parece
mais história de ficção do que promessa do Deus todo poderoso. E seguimos
cansados como qualquer outro que não crer, porque deixamos de buscar o reino de
Deus em primeiro lugar, pois temos que construir o nosso. 
O pior que nos
ocorre é que esta escolha nos deixa à deriva, neste mar turbulento da
ansiedade, como se não estivéssemos no navio da graça.
Seguimos
afirmando a nossa fé no pão da vida, com fome de mais, mais, mais... Temos água
da vida e vivemos com sede.
Somos a luz do
mundo, mas estamos trancados no quarto escuro da incredulidade, vivendo como
luz de vela no final do pavio. 
Somos o sal da
terra, todavia, contentamos em ser pisados pelos homens todo dia, ao nos
submetermos ao sofisma que para ser temos que ter.
Pregamos sobre
o Deus da provisão, do Soberano no controle, mas nem nós mesmos estamos convencidos
destas verdades, porque elas não nos acalmam mais. A verdade é que a nossa alma
o tempo todo grita por águas de descanso.
Que
estranho... Parece que estamos perdidos no reino de Cristo, como se fôssemos do
mundo que jaz no maligno3. E nos tornamos os mais infelizes de todos
os homens porque não vivemos da graça que já recebemos.
Que hoje, Deus
nos ajude a fechar o aplicativo do banco como quem não é órfão do Pai.
Roseli de
Araújo
Escritora e
Psicóloga clínica
 Referência:
1.      
Lucas 12:5
2.      
Mateus 6:3
3.      
IJoão 5:19
domingo, julho 13, 2025
Cuidado e o tempo
Cuidar de nós mesmos para que o coração não fique
sobrecarregado com as preocupações deste mundo’1 é uma ordem de Jesus, mas,
quem tem tempo para pensar sobre isso?
Os dias parecem curtos demais e o tempo parece correr a
200 km por hora, impondo sobre nós uma ansiedade por um fazer sem pausa.
E a pressa é como um poderoso espírito que paira, gerando
uma ânsia que corrói por dentro e por fora, mimando nosso corpo como um câncer
silencioso a roubar a vida sem assustar, cada dia e mais um pouco.
Sem tempo, seguimos a conquistar o que é imposto que
preciso. Logo, já não ando devagar. Não me permito ver a beleza e nem a feiura
do caminho. E o respirar com calma parece uma tarefa de outro mundo.
O corpo não se cala diante da imposição do não ter tempo.
Uma angústia emerge por dentro. Ficamos inquietos. Uma irritação que nada ajuda
comparece. A expectativa de um futuro que não vale a pena domina. O coração
bate com desespero. O sono é roubado. A concentração viaja sem permissão. Às
vezes as mãos ficam trêmulas, outras vezes o suor escorre. Uma fraqueza nos faz
sentar sem querer. Ombros e costas parecem carregar o mundo. Contudo, não
paramos a despeito de todo sinal dado pelo corpo.
Todavia, o corpo segue clamando.
E a ordem de Jesus para cuidarmos de nós mesmos, para que
o coração não fique sobrecarregado com as preocupações deste mundo’, nos
livraria de toda morte que nos espreita. Ela nos traria a vida que acreditamos
comprar nas farmácias. Ela faria o coração carregar o que é eterno, tornando-o
leve como uma pena. Sua ordem obedecida nos faria viver e não apenas existir.
Mas, quem tem tempo para pensar sobre isso?
Roseli de Araújo
Escritora e Psicóloga
Referência:
1.     Evangelho de Lucas 21:32
quinta-feira, julho 10, 2025
Todos?
Deus está
perto de todos os que o invocam... Diz o salmista1.
Todos? Sim,
todos:
De todos os
que cantam de alegria e de todos que choram de tristeza.
De todos que
celebram a chegada de um bebê e de todos que choram a morte de um filho.
De todos os
que estão vivendo na luz e de todos os que estão vivendo na escuridão da noite.
De todos que sobem aos céus e de todos que fazem sua cama no mais profundo abismo2.
De todos os
que contemplam o fruto do seu trabalho e de todos que creem que seu trabalho só
trouxe cansaços.
De todos que
estão cercados por amigos e de todos que se assentam na mesa com seus colegas
falsos3.
De todos que a
fé está fortalecida e de todos que a incredulidade visita.
De todos os
que estão de pé e de todos os que caem.
De todos que
estão cercados de recursos e bens e de todos que experimentam a falta do
básico.
De todos que
estão saudáveis e de todos que estão doentes.
De todos que realizam seus sonhos e de todos que vivem a frustração de não conseguir o que tanto deseja.
De todos que vivem a hora do abraço e de todos que vivem o afastar-se de abraçar4.
De todos que
preparam a terra para a semente e de todos que separam as ferramentas para
colher.
De todos que
buscam o que desejam e de todos que perdem o que tanto quis guardar.
De todos que
decidem manter e de todos que optam por dividir,
De todos que
falam e de todos que se calam.
Este, todos,
me consolaria se o salmista Davi não me informasse que ‘Deus está perto de
todos os que o invocam em verdade’1. Logo, há um grupo de pessoas
que não está no todos.
E o meu coração se agita. Eu sei que a verdade não é algo fácil para quem sabe que não sabe tudo de si. Logo, o que provou a verdade traz no peito a humildade de reconhecer que não sabe tudo, que não vê tudo, e que precisa buscar Aquele que tudo sabe e tudo vê. E a verdade de saber que não sabe já é verdade para se admitir.
Roseli de
Araújo
Escritora e
Psicóloga
Referência
1.      
 Salmo 145:18
2.      
Salmo
139:8
3.      
Salmo
23:5
4.      
Eclesiastes
3:5
5.      
Salmo
51:7
6.      
Evangelho
de João 4:23
7.      
Hebreus
10:22
quinta-feira, junho 05, 2025
O pior de está perdido
Tenho aprendido que pior do que estar perdido é não se
reconhecer perdido.
O perdido é tantas vezes como o filho pródigo na casa do
pai. Deseja um mundo lá fora que não tem nada a oferecer, sem ser capaz de
avaliar o quanto recebeu durante toda sua vida. Não consegue ver o quanto está
guardado pela autoridade justa e carinhosa do pai, e sai a buscar na liberdade
o que ela não pode oferecer.
O perdido despreza o colo da mãe, as brincadeiras com os
irmãos, a presença de todos os que lhe servem na casa em que lhe foi permitido
nascer. Ignora as festas vividas, o riso na mesa, o teto confortante que o
abriga.
O perdido ambiciona encontrar outros que lhe permitam
viver tudo que tiver vontade, sem avaliar que os fins de alguns desejos podem
esmagar uma alegria sonhada.
O perdido, dos seus lábios, gratidão não jorra e nem é
capaz de reconhecer que só vive o que se quer, porque está bancado por aquele
que sustenta a vida. 
O perdido rompe com aquele que ama, na ilusão que
encontrará outros amores. E ao exigir o que não tem direito, semeia como se a
colheita não fosse chegar.
Olhando para o filho pródigo, fico com a certeza que quem
está perdido vive como se fosse uma estrada de lama em dia de chuva, onde o
perigo se concreta. Pois, o perdido não vê onde está e fica sem perceber que não
se encontrou. Não reconhece o não saber a direção e segue na estrada errada,
gritando a pleno pulmões que sua escolha é a certa. Sem admitir que o seu saber
nada faz na vida que se faz, se torna incapaz de avaliar que a força e os
recursos que julga ter são apenas ilusões de uma proteção que o tempo
destruirá.
O triste do perdido que não sabe que está perdido é que,
por si, nada poderá fazer. Sem se vê, não pode recalcular a rota, nem
reconhecer o coração endurecido pela vaidade de se achar onde não está, e de
não buscar o Senhor enquanto se pode achar(1).
Olhando para o Filho pródigo, fico a pensar: onde estou
perdida? Existe em mim algum olhar que não vê? Qual é o direito que eu julgo
ter? Em que tenho deixado o pai para viver o que suponho ser bom? Diante das
perguntas que faço, minha alma suspira por uma clareza que me livre de mim.
Confesso: Não quero ter o triste fim de quem não se viu
perdido, embora eu saiba que é possível, como foi ao filho pródigo, encontrar o
caminho de volta. E, graças a Deus, pela graça que nos permite recomeçar. Mas,
o que prefiro é nunca sair da casa do pai que para mim foi conquistada, vivendo
como gente que sabe que por Cristo foi encontrada.
(Texto Baseado em Lucas 15)
Escritora e psicóloga 
Roseli de Araújo
Referência
1.Isaias 55:6
domingo, maio 25, 2025
O Pai de Lucas 15
Ele tinha em
suas mãos o poder de entregar seu filho ao apedrejamento, mas ao invés disso,
deu a ele a parte da herança, que, naquele momento, não era dele. Deixando-o
ir, tendo todo poder de segurá-lo, ainda financiou sua louca desobediência,
certo de que o filho desperdiçaria tudo que levaria. Afinal, quem não aprendeu
a agradecer o que recebeu, dificilmente saberá administrar para o seu próprio
bem.
Certamente, o
coração do pai ficou estraçalhado.
Enquanto
deixava ir, lutou com os pensamentos de que aquele filho era jovem demais, e
gostaria tanto de livrá-lo do futuro trágico que estava à frente. Seriam tantos
perigos... Contudo, contemplou para além do que o filho lhe impunha. Sabendo
que a única chance que tinha de recuperá-lo era deixá-lo partir. Ele já estava
perdido em si e o seu sonho de liberdade já o esmagava nas cercas de sua
família, provocando nele o desejo de outros ares, asfixiando nele, o lar que o
acolhia. O pai sabia que, se ficasse a amargura, o destruiria.
Sem a mínima
vontade de consentir sua partida, o pai disse sim.
O filho
acreditava que precisava provar das suas escolhas. E partindo sem nenhuma
certeza do que o caminho lhe reservaria, saiu pulando de alegria. O pai ficou
encostado no batente da porta em busca de apoio, enquanto a escolha do filho
lhe atravessava a alma.
Por vezes,
sinto que saio saltitando em busca do que eu quero, enquanto Deus me sinaliza
para não ir. E são muitos os momentos em que prefiro aprender com meus erros do
que ouvir aquele que me ama, indo muitas vezes em busca da vida que já tenho em
sua casa.
Mas, graças a
Deus, o meu pai é o pai de Lucas 15. Ele me deixa ir e escolher, provar do que
não é manjar, fazer o que me trará uma dor que eu não precisava ter. Vendo-me
como nem eu mesmo me suponho. Financiando com paciência o que não quer para
mim, sabe da dureza do meu coração de pedra, do quanto acredito que os meus
olhares sobre a vida são os melhores. E é com frequência diária que mesmo
discordando de mim, mantém-me por sua maravilhosa graça.
E ao me
permitir voltar do que me levou para longe, o pai de Lucas 15 faz meu coração
de pedra se esfarinhar. Mesmo quando fico por alguns momentos desgostosa comigo
mesma, por perceber a loucura do que faço ao desobedecer, descubro que a rua da
sua imensa graça já estava construída para que eu pudesse voltar para casa.
Que maravilha! Em sua graça, ele nunca me deixa perdida.
Roseli de Araújo
Escritora e
Psicóloga clínica
domingo, maio 18, 2025
O problema da falta
Eles
discorriam sobre o não ter pão. Pareciam esquecidos dos milagres que foram
feitos, ontem. E não entenderam nada quando Jesus falou do fermento dos
fariseus. Que triste, eles estavam ocupados com a falta.
Será que eu
sou assim?
Ele me salvou
da morte eterna, do diabo, de mim mesma, e não compreendo ainda?
Ele é a minha
rocha, em quem existo e me movo, e não compreendo ainda?
Ele é o
caminho que me livra dos atalhos, e não compreendo ainda?
Ele é a
verdade que me liberta de todo saber que não me leva a nada, e não compreendo
ainda?
Ele é a vida
que me livra da aridez da morte, e não compreendo ainda?
Ele é o pão
que eu sei que se partiu pelos seus discípulos de todas as gerações, e não
compreendo ainda?
Ele é água que
me tira toda sede de outras buscas, e não compreendo ainda?
Ele é o
descanso nos dias em que o cansaço me rouba as forças, e não compreendo ainda?
Ele é o meu
amigo que se manifesta na mesa quando a incredulidade me causa angústia e não
compreendo ainda?
Ele é aquele
que atravessa as paredes dos meus medos, dando-me certeza da sua presença, e
não compreendo ainda?
Ele é o bom
pastor que não me deixa na solidão dos profundos vales, onde ninguém pode
passar comigo, e não compreendo ainda?
Ele é o meu
amigo sentado ao lado, quando Judas está na mesa, e não compreendo ainda?
Ele é aquele
que vem ao meu encontro mesmo sabendo dos meus pecados, e não compreendo ainda?
Ele é quem se
fez pecado por me amar, e não compreendo ainda?
Ele é àquele
que sempre advoga as minhas causas impossíveis, e não compreendo ainda?
Ele vai voltar
como prometeu em sua palavra, e colocará tudo em ordem, e não compreendo ainda?
Por vezes me
pego pensando: por que me ocupo da falta do pão? Qual falta sentida que não foi
preenchida por aquele que a tudo preenche?
A resposta que ecoa é que estou sem memória de todos os seus milagres feitos, ontem, por mim. E, sem lembrança, fico a lamentar, mesmo tendo.
Quão perversa
é a incredulidade que carrego no peito.  Percebo que é fácil seguir
chorando pelo leite que já tomei, sem considerar a provisão já recebida.
Também, é fácil viver sem ver o que Jesus está me mostrando e sem ouvir o que
está me dizendo.
Diante desta
minha verdade, eu sei que preciso me apropriar de tudo que nele já recebi. E
hoje, ao abrir sua palavra, escutei a sua voz mais uma vez a me perguntar: não compreendeu
ainda?
Quem sabe
nessa sua obstinação, meus olhos se abram e meus ouvidos ouçam. E, eu que estava
ocupada pela falta, fique livre da incredulidade, que tem me roubado a aprender
dele tudo que deseja ensinar a mim.
E você, qual é a sua falta? E o que tem escutado de Jesus?
Roseli de
Araújo
Escritora e
Psicóloga Clínica
(Texto baseado
em Marcos 8:14-21)
quinta-feira, março 20, 2025
Na praia
Todos estão confusos. Sentem-se vazios... A vida sem a presença do mestre Jesus os deixava com a sensação de não saber ao certo o que fazer.
Dentre eles, Pedro tinha o coração ainda mais dolorido. É difícil enfrentar a realidade de ser menos, quando se pensou, ser mais. Pelo mestre, acreditou que conseguiria dar a própria vida. Mas, como todos os outros, o negou.
Naquela noite, sentindo um peso no peito frente ao futuro que nada o acenava. Ele disse, ‘vou pescar’. Os outros discípulos que estavam na praia juntaram-se a ele. Afinal, eram homens do mar, antes de andar com o mestre. E como também não sabiam como recomeçar, fazer o que se sabe podia ajudar a encontrar de volta o caminho.
Eles pescaram a noite toda. Nenhum peixe apanharam. Exaustos e com fome, retornam à praia ao amanhecer, ainda mais confusos... vazios...
Mas, o mestre Jesus estava na praia. Contudo, os sentimentos confusos, ansiedade quanto ao futuro, a fome presente, o cansaço de lutar e nada ter, roubaram deles ver o que tanto precisavam. Eles não o reconheceram.
Mas, Jesus estava na praia naquela manhã, em que a esperança, parecia uma fumaça a se perder no tempo.
Não se esqueça.
Naquela manhã, Jesus estava na praia.
Psiu... vou repetir:
Naquela manhã, Jesus estava na praia.
Roseli de Araújo
Escritora e Psicóloga
(texto baseado em João 21 e publicado a primeira vez no dia 11/04/23)

 









