Escolher é sempre um desafio e este texto que apresento foi escrito durante minha graduação em psicologia e trata sobre as escolhas humanas na visão da Gestalt-terapia.
Liberdade ou Desespero: A
Escolha Sob o Olhar da Gestalt-terapia
Roseli Batista
Sousa Barbosa de Araújo
Pontifícia
Universidade Católica de Goiás
Na perspectiva existencialista a escolha é um presente dos deuses aos
humanos que tanto pode ser benção quanto maldição, ao carregar em si a
liberdade e a responsabilidade diante da qual ninguém pode se evadir, colocando
na sorte ou nos outros, a culpa por suas desventuras. E dentro desta ótica, o
decidir torna o ser humano responsável pelo que é, e mesmo quando não é aquilo
que deseja, sempre é o resultado de suas escolhas (Sartre, 1970; Cardella,
2002: Manniom, 2005).
Angerami (1950) coloca que na percepção dos existencialistas a angustia é
o “holo” da existência humana, é companheira eterna e interna de cada ser. E
sendo o existir marcado por um emaranhado de situações escabrosas, só poderá se
revestir de sentido na medida em o ser humano compreender que é livre para
fazer suas escolhas ao mesmo tempo em que é responsável por elas.
Diante da liberdade de escolha o ser humano se angustia, contudo, sendo o
detentor da primazia de acordo com a filosofia humanista, é superior aos
animais ao se inquietar diante das suas realidades pessoais, ao viver em um
constante estado de busca, condição que muitas vezes o leva ao desespero e faz
com que almeje sempre superar-se e ir além (Kierkegaard, 1849; Mondin, 1980;
Ribeiro, 2007).
Nesta busca da transcendência, a pessoa necessita trilhar pelo caminho
das pedras e das belas paisagens que é o seu ser, precisa ter coragem de andar
sem sinalização, e voltar-se totalmente para o seu mundo interior cavando de si
mesmo, o que é, o que deseja, aonde quer chegar e como quer chegar; (Yontef,
1998; Cardella, 2002; Ribeiro, 2007 Rodrigues, 2009).
A Gestalt-terapia então nasce imbuída de cooperar para que o ser humano
se conheça, e se embasa no Existencialismo e no Humanisno, afirmando que a
pessoa por mais perdida que esteja em algum momento da sua jornada, possui uma
bússola interna capaz de levá-la a rota certa, conduzindo-a por caminhos que a
faça encontrar os seus recursos criativos, compreendendo a si mesmo e
transcendendo os obstáculos, os sofrimentos, as limitações (Ribeiro, 1985;
Zinker, 2001; Cardella, 2002).
Para encontrar seus recursos criativos a pessoa necessita trilhar pelo
caminho das pedras e das belas paisagens que é o seu ser, precisa ter coragem
de andar sem sinalização, e voltar-se totalmente para o seu mundo interior
cavando de si mesmo, o que é, o que deseja, aonde quer chegar e como (Yontef,
1998; Cardella, 2002; Ribeiro, 2007 Rodrigues, 2009).
A Gestalt-terapia, imbuída desta tarefa de cooperar para que o ser humano
transcenda, faz uso do enfoque dialógico, que busca compreender que as
dificuldades da vida necessitam ser vistas como parte da saga de cada ser, como
sinalizações do desequilíbrio das relações humanas, como um convite concreto
para o abandono do olhar adoecido pelo egoísmo ao mesmo tempo em que retorna
para relação com o outro, certo de que o adoecer é sempre fruto de um diálogo
que não ocorreu (Hycner, 1995; Yontef, 1998).
A Gestalt-terapia então caminha de mãos dadas com a abordagem dialógica,
que afirma que a existência humana é relacional. E nesta perspectiva duas
atitudes são destacadas: o “Eu-Tu” e o “Eu-Isso”. O “Eu-Tu” aponta para um
encontro, para o face a face com o outro, onde seguimos confirmando quem somos
e descobrindo qual o sentido maior da existência humana. O “Eu-Isso” nos fala da
relação utilitarista que é estabelecida com os objetos que podem ser conhecidos
de forma objetiva (Buber, 1965; Malaghut, 1995; Cardella, 2002)
Na psicoterapia, o “Eu-Tu” é o conceito de fundamental importância para
nortear a busca do terapeuta na disponibilidade para o outro, no contato e na
confirmação da humanidade deste cliente que chega mergulhado no desespero que
nasceu diante das escolhas que fez e, angustiado frente às escolhas que se
apresentam no presente (Buber, 1965; Malaguth, 1995; Cardella, 2002; Yontef,
1998).
A relação terapêutica alicerçada no “Eu-Tu”, fará surgir o amor altruísta
por parte do terapeuta, fomentará a cumplicidade, o encontro. De acordo com
Petrelli (2001) o diálogo completo, que suscitará a importante confiança no
cliente que está vulnerável por causa da sua dor. Levando-o a revelar seus
sentimentos na medida em que andam lado a lado. E assim, através da auto
escuta, fazendo contato consigo mesmo e com o outro, vivencie o que se
apresenta no hoje, escolhendo para si o caminho a seguir (Zinker, 2001; Feldman,
2004; Ribeiro, 2007; Perls, 1997; Polster & Polster, 2001).
Para escolher é necessário considerar o “mundo” o qual o caminho se
encontra, e a Gestalt-terapia ao evocar a teoria de campo e a teoria
organísmica como parte dos seus pressupostos, torna-se detentora de refletores
capazes de trazer luz ao cosmo do cliente, permitindo-o a vivenciar com mais
clareza os potenciais e limites políticos, econômicos e sociais do seu
contexto, bem como os seus próprios, levando-o a fazer escolhas mais ajustadas
(Rodrigues, 2009).
A Teoria de Campo parte do
princípio que para compreender uma pessoa é necessário abarcar tudo que a
cerca: seu ambiente, seus objetos, as pessoas que o compõem, assim como suas
possibilidades e limitações (Kurt, 1965; Ribeiro, 1985; Yontef, 1998).
A Teoria Organísmica em seus apontamentos diz que a pessoa é uma
combinação única e naturalmente organizada, no qual o todo que a compõe detém
leis próprias que o regem, e que as partes são compreendidas como integrante do
organismo total, não sendo possível jamais compreendê-las pela análise. Reflete
também que a pessoa de forma permanente busca atualizar seu potencial que é
inerente a sua natureza e, nesta empreitada se desenvolve enquanto ser
(Ribeiro, 1985 p.107-108; Fagan & Shepherd, 1971).
A conexão entre estes princípios e a Gestalt-terapia é inegável, ambos
defendem que a capacidade de “auto-regulação” é inerente ao ser humano,
permitindo-o fazer escolhas que atualizem seus potenciais. Contudo, a confusão
frente às escolhas que surge no campo a qual a pessoa está inserida rouba-lhe a
ação imobilizando seu potencial na medida em que a desorganiza, e a
psicoterapia deve ter como propósito situar o cliente quanto à direção dos seus
sentimentos, discernindo qual o nível de energia possui para agir, e aonde quer
chegar, o que facilitará certamente suas escolhas (Ribeiro, 1985; Perls, 1997;
Rodrigues, 2009).
A ferramenta usada por psicoterapeutas da abordagem gestáltica para
aportar o cliente a si situar em seu campo e a partir daí fazer suas escolhas,
é o método fenomenológico. Este consiste em apreender a essência do que emerge
a partir da descrição do fenômeno para atingir a realidade como ela é,
alcançando o significado real do cliente, na medida em que investiga o que, o
“como”, no “aqui e agora”, deste ser que é capaz de reconstruir-se a cada
momento (Husserl, 2000; Ribeiro, 1985; Rodrigues, 2009; Ribeiro, 2007;). Rohden (2007) ao apresentar a biografia de
Einsteim nos conta que esse gênio afirmava que pensava 99 vezes e nada
descobria, e ao deixar de pensar, a verdade se revelava a ele. Essa é a postura
fenomenológica exigida para os gestalt-terapeutas. Despidos de qualquer juízo
de valor devem trabalhar descrevendo o que se mostra - o fenômeno - se detendo
no sentido do comportamento, captando assim todas as informações disponíveis e
ajudando a pessoa a perceber seus sentimentos, seu ritmo, pensamentos e
emoções, para que na medida em que entrar em contato consigo mesmo, vá se
apropriando do poder que possui de gerir, através das suas escolhas, a sua
própria história (Rodrigues, 2009; Cardoso, 2002).
De acordo com Fagan & Shepherd (1971) na medida em que uma pessoa “se
identifica com os fragmentos alienados, ocorre uma integração” (p.112), pois ao
ser o que é de forma plena, a pessoa pode se tornar a pessoa que quer ser.
Para a Gestalt-terapia, portanto, a pessoa só se identificará com seus
fragmentos a partir da “awareness”,
isto é, quando ela conseguir ter consciência do “aqui e agora”, do óbvio, da
realidade que a envolve e do como ela se encontra frente a esse real (Yontef,
1987; Cardella, 2002). Diante desta realidade a “resposta consciente (como
orientação e como manipulação) é o instrumento de crescimento no campo” (Perls,
Hefferlin & Goodman, 1997, p.45).
O que permitirá a pessoa a vivenciar a “awareness” é a habilidade do
terapeuta em levar o cliente a expandir suas fronteiras de contato, isto é, a
experimentar e reconhecer suas possibilidades e limitações, a discernir o que é
seu e o que é do outro, e a partir daí, escolher o que necessita para se
ajustar criativamente. A expansão da “fronteira-de-contato” poderá capacitar o
cliente a discernir o ritmo da música que se apresenta em seu campo, no tempo
que se chama hoje, dando somente a ele, o poder de acertar seus passos (Perls,
Hefferlin &Goodman, 1997; Yontef, 1998; Cardella, 2002).
Para a Gestalt-terapia, o processo terapêutico que permite a expansão da
“fronteira-de-contato”, poderá levar o cliente “awareness”, ampliando sua percepção do que tem impedido o fluxo de
sua vida e das situações inacabadas, para que fechando gestalts, abra-se para
novas possibilidades que se apresentam no “aqui e agora”, deixando o passado no
passado, e capacitando-o a fazer escolhas que venham a produzir o equilíbrio do
seu campo (Yontef, 1998; Cardella, 2002).
Para os Gestalt-terapeutas o que interessa é a forma como seu cliente
interage consigo mesmo e com o mundo a sua volta, o que ele vivencia e não o
que fala, porque pressupõem que o seu funcionamento, sua forma de
“ser-no-mundo” é que vai determinar o quanto saudável são suas escolhas (Hycner,
1995; Cardoso, 2005; Ginger & Ginger, 1995).
Maravilha!!!!!!! Parabéns Amiga...
ResponderExcluirObrigada. Lembra o quanto sofremos para produzir esse trabalho?Saudade demais da sua companhia.
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