A alegoria da caverna é uma
referência ao processo de Sócrates em relação à justiça popular de Atenas.
Nesta, Sócrates aborda questões relevantes sobre a educação, que tem como
objetivo libertar os homens do senso comum. Senso esse que muitas vezes os
aprisionam em conceitos que são apenas sombras da reali
Para se libertar destas sombras, Sócrates
acredita que é necessário o sofrimento. Uma situação na qual a pessoa vai se
deparar com algo novo, diferente, espantoso. Contudo, isso é necessário para
que se alcance o “Bem”, de onde todas as virtudes derivam. Tal experiência
levará o indivíduo a rever seus valores, sua visão da vida.
Entretanto, vivemos numa sociedade
que estimula a busca pela egocêntrica felicidade, e que tem slogans como: “O
que importa é você”, “Tudo o que vale é ser feliz a qualquer custo”, “Vivam
grandes emoções todo dia”, “Quem pensa muito não faz nada”... E isso tem gerado
um horror ao sofrimento: qualquer incômodo interior ou exterior deve ser
descartado. Vivemos então uma vida em que fugimos o tempo todo da reflexão, do
questionamento (dizem que “pensar dói”).
Somos cada vez mais levados ao
entretenimento, às grandes emoções das propagandas. Passamos o tempo todo
fugindo das reflexões e das realidades que nos cercam. E estas estão recheadas
de sofrimento. Os conflitos existem em todas as fases da nossa vida. Do feto ao
velho, todos experimentam o desagradável, o que incomoda, o que dói. Contudo, estamos
mergulhados no sofisma que afirma ser possível ser feliz o tempo todo, e
recusamos qualquer dor. E a consequência disso é uma geração alienada,
entorpecida, emocionalmente doente. E o que não é tratado, emerge. Fobias,
transtornos psíquicos os mais variados e tantas outras coisas vão ficando
comuns. Ninguém percebe que o medo exagerado da dor nos tira a beleza de
conhecermos a nós mesmos.
Somos pessoas contraditórias,
fazemos tantas projeções, há tanta sombra em nossa vida... porém, somos a
imagem e a semelhança do Criador. Há muitos tesouros em nós para serem vistos.
Somos como o diamante: ao ser encontrado é uma pedra bruta de grande valor, mas
sem beleza, quando lapidado se transforma em uma brilhante e bela jóia.
A vida sempre vai nos trazer
oportunidade de sairmos da nossa caverna interior. Como na história em
quadrinhos de Maurício de Sousa, quando Piteco questiona os três personagens,
ao não ser compreendido se coloca sobre as sombras que eles veem e atrapalha a
visão deles. Irados, os personagens correm atrás dele e se distraem de si
mesmos, ao ponto de saírem da caverna e verem um mundo novo, com muita luz.
Os Pitecos da nossa vida, que nos
farão sair das nossas cavernas, poderão ser pessoas queridas que nos farão
sofrer; pessoas queridas que irão morrer; decepções as mais variadas; dores
físicas e emocionais; acidentes; uma aula de filosofia ou de qualquer outra
disciplina; um filme; uma conversa sincera com amigos. São tantas as situações
que nos farão sofrer, e o sofrimento sempre nos leva a pensar. Podemos brigar
contra tudo e todos e nos fecharmos ainda mais ou, ao contrário, vamos nos
tornar bisbilhoteiros desse novo mundo que nos apresenta. Vamos aplaudir os
nossos Pitecos (o sofrimento), não porque foi bom senti-lo, mas porque eles nos proporcionam outros
caminhos, outra visão, coisas novas.
E viver pode se transformar nessa
busca do “Bem”, do “Criador”. Teremos apenas que cuidar para que nessa busca
nada mais nos faça prisioneiros, como aconteceu com os três personagens, que
saíram de uma caverna para outra.
E que os “Pitecos” da nossa vida nos
façam sempre rever nossos conceitos e caminharmos em busca de uma vida mais
plena de significado onde, uma vez lapidados, como o diamante, vamos descobrindo
a beleza que temos em nós mesmos e ao redor de nós.
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