Embora a academia me oriente a não falar de mim mesma, hoje eu ouso
afirmar que por vezes eu acordo com uma disposição interna para olhar para os
problemas. Não compreendendo o que está acontecendo, uma sensação de que a vida
não vai caminhar como devia me toma por inteiro, e me pergunto: Que sentimento
é esse?
Fico a refletir: O que fazer com isso que me invade a alma?
Quero ser feliz, mas, se não é possível ser feliz o tempo todo, o que
fazer com esses dias em que a tristeza rouba todo espaço da alegria em nosso
coração?
Em minhas próprias lutas, eu descubro que algumas coisas são realmente
importantes nessa batalha.
Bom, minhas reflexões são frutos de um busca interna frente a todas as
batalhas que a vida me propôs, elas nasceram também do conhecimento de quem sou
que adquiri no processo terapêutico pelo qual passei por sete anos, e essas
descobertas me fazem, hoje, mais feliz do que fui antes.
Não são receitas mágicas, nem varinha de condão ou o gênio da lâmpada. São
verdades que, uma vez cultivadas, produziram em mim frutos de alegria. Prestem
atenção: Estou falando de alegria e não de felicidade permanente. E qual a
diferença?
Para mim, a alegria é aquela capacidade
que nasce da esperança de que a vida tem propósitos e encantos, enquanto que
felicidade permanente é uma invenção de mercado.
Por essa razão, escrevo não com o intuito de oferecer um manual, afinal
de contas a psicologia me ensina sobre a complexidade humana, as diversas dimensões
em que o sofrimento é vivido, assim como a forma peculiar que é experimentada
por cada ser humano. O que me leva a compartilhar com ousadia são as pesquisas
científicas que apontam para esses mesmos caminhos que andei.
Primeiro: descubro que a Alegria é a capacidade de reconhecer que,
embora não tenhamos tudo que queremos (o que já é uma alegria), temos muito, e
a nossa grama é tão verdinha quanto as dos nossos vizinhos. Claro, se a gente
cuidar dela. Alegria é também a capacidade de curtir aquele café ou chá ou suco
que gostamos, enquanto tantos não têm nada sobre a mesa. Por vezes encontro
pessoas próximas me dizendo que os problemas dos outros não amenizam os seus,
eu fico pensando, como não? Se a dor dos outros em nada nos provoca empatia,
então como seremos felizes, se nossa construção pessoal se faz a partir do
outro?
Segundo: a gratidão é motor que move nossos corações ao conforto
emocional sempre. Ela nos faz reconhecer o que recebemos de Deus (para quem
crer nEle), das pessoas que amamos, ou de pessoas com quem cruzamos no caminho
e que, sem nenhum vínculo mais profundo conosco, nos estendem as mãos. A
gratidão é o reconhecimento de que só somos o que somos porque um ambiente
nos foi disponibilizado. É a capacidade de refletir sobre o que é bom, “de
reconhecer os óculos na ponta do nariz”, como diz Mário Quintana.
Por vezes, a dor que enfrentamos é tão grande que tudo se escurece
diante de nós, e fica difícil nos mantermos gratos. Então, para esses dias,
criei uma lista, onde anoto tudo que sei que é bom pela minha razão, e leio
pela manhã e durante o dia, se a escuridão insistir.
Terceiro: é preciso acolher o que se sente e não negar. Durante
todo o tempo em que fiz terapia, por causa de uma depressão que vivi por mais
de cinco anos, o que mais tive dificuldade foi aceitar que eu, sendo tão
otimista como sempre me achei, estava naquele momento deprimida, e lutei contra
o sentimento, e nada adiantou. Então aceitei, acolhi esse sentir no sentido de
reconhecer que ele está ali, e não existe nenhum problema em ter tristeza, ou
angústia, as dores da alma são manifestações do humano. E como disse Públio
Terêncio Afro, poeta e dramaturgo romano que viver cerca de 200 anos antes de
Cristo, “nada que é humano me é estranho”. Nesses meus 42 anos
de vida aprendi que é impossível ser feliz o tempo todo. A felicidade
permanente é apenas uma construção do mundo da propaganda, esse mundo
capitalista, que nos imprime desejos, enquanto nos rouba a capacidade de realizá-los.
E, cá pra nós, quem tem tudo o que quer, ainda que diga que não, acabará
ficando com o que é do outro, mas isso é uma reflexão para uma outra hora.
Quarto: aprendi que, quando faço atividade física, a minha sensação de
bem-estar aumenta, então caminho.
Quinto: o tempo é dinheiro, que deve ser gasto com o que gostamos. Uma Coca-Cola
partilhada, um pão com manteiga Qualy, um bolo de farinha de trigo feito pro
lanche da tarde é lucro que não se mensura. O tempo gasto com o que gostamos é
investimento que não se adia. Afinal, ouvi do Pastor Ariovaldo Ramos que “quem
não sabe quanto tempo tem, tem muito pouco tempo”.
Gostaria de deixar como sugestão de leitura o livro "Os 100 Segredos das Pessoas Felizes", de David Niven, pela Editora Sextante. Embora esteja erroneamente classificado como autoajuda, trata-se de uma coletânea de máximas e conselhos baseados em uma pesquisa científica séria.
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