Dos conselhos dizem que, se fossem bons, não seriam de graça. Na verdade, a maioria das pessoas crê que aconselhar, se não fizer bem, mal também não fará. Não é necessariamente verdade isso. Há orientações gratuitas, dadas com a maior das boas intenções (aquelas que enchem o Inferno o chão ao teto, segundo a sabedoria popular), que têm um potencial destrutivo assombroso e ser uma grande furada, piorando a situação que já está ruim. E nem precisa colocar em prática, basta passar a acreditar em certos clichês e frases de impacto (repetidos geração após geração) ditas pelos amigos e conhecidos.
O
principal objetivo de um conselho, obviamente, é ajudar o aconselhado. Mas é
mais desafiador dar uma orientação construtiva (que pode funcionar) do que
receber um conselho, afirmam especialistas na área de Relações Humanas. O
irônico é que, muitas vezes, a “culpa” é do futuro aconselhado, que chega de
repente e diz “O que você faria se estivesse no meu lugar?”. Isso coloca a
outra pessoa numa situação difícil em que não há tempo para pensar, e a vontade
de ajudar supera o bom senso. Aí, entram em cena os clichês, que não são nem um
pouco práticos. Ao lidar com uma grande perda, por exemplo, não é agradável ouvir
que "o tempo tem poder para curar todos os males".
Isso torna terrível o presente, dando a entender que não há nada que se possa
fazer para melhorá-lo.
Um
bom conselho precisa ter toques de mediação, realidade, clareza e até possíveis
soluções. Allessandra Ferreira, palestrante e coach da AlleaoLado, não acredita
que o conselho é o melhor caminho para ajudar o próximo. Ela prefere o uso de
uma opinião bem formada, que estimula o outro a chegar à própria resposta.
“Antes de opinar faça perguntas e busque entender melhor a história. Muitas
vezes as frustrações surgem por falhas na comunicação. A melhor ajuda é acolher
e não tentar apontar o que você acha melhor para ela”, garante a profissional.
“O
maior perigo é aconselhar sem conhecer a realidade do outro. Cada um tem uma
forma de viver, por isso, é proibido generalizar. Falar frases bonitas e de
impacto tem apenas efeito imediato, mas nada construtivo”, diz o executive
coach Robson Nasc.
Segue
uma pequena lista de alguns dos piores conselhos que se pode dar a um(a)
amigo(a):
1. “Várias cabeças
pensam melhor do que uma”
Dois
é mais do que um somente na matemática, garante o coach Nasc. No ambiente
profissional, colocar duas pessoas que não rendem trabalhando juntas pode ser
desastroso. O conselho pode ser ainda pior se aplicado na vida pessoal já que,
em grupo, muitos depositam confiança no consenso e não consideram as opiniões
individuais, que são as mais importantes.
2. “Nunca desista dos seus sonhos.
Você vai chegar lá!”
Muitos abandonam a
racionalidade na hora de aconselhar alguém. Prometer ao outro que todos os
sonhos serão realizados é uma armadilha. Se a amiga falhou ao tentar conquistar
algo, ela precisa avaliar as reais chances de conseguir antes de tentar de
novo. Às vezes, o caminho é investir em outras metas e buscar a felicidade por
outros caminhos. “O aconselhado precisa saber qual é a realidade para ele
chegar lá. Uma melhor ajuda é sugerir os passos que ela deve seguir para
melhorar o futuro”, defende Nasc.
3. “Não se preocupe, tudo dá certo no
final!”
A frase tem um tom
acolhedor, mas pode gerar uma possível decepção. Muitos usam esse conselho
quando não sabem o que falar para o outro. Para Alessandra, antes de despertar
esperanças no aconselhado, assuma que considera a situação delicada e que não
sabe o que fazer.
“Um caminho é pedir
um tempo para refletir melhor sobre o problema. Isso irá mostrar que você terá
algum cuidado ao colocar a sua opinião”. E por fim, não tenha vergonha de falar
que não se sente confortável para aconselhar.
4. "O tempo cura
tudo."
Usar esse conselho
significa considerar que todas as pessoas lidam com o tempo da mesma forma. E
pode ainda prejudicar uma ação mais rápida para resolver o problema ao promover
a ideia de que um fator externo – o tempo – guarda todas as respostas e
soluções. Muitas vezes, segundo especialistas, a saída está na transformação
interna do indivíduo.
5. “Chore e coloque a raiva para fora.”
Os sentimentos
negativos não escorrem com as lágrimas. Ao extravasar a tristeza e a raiva, a
pessoa ativa uma rede de emoções e ações agressivas e não conquista a calma.
Gritar, chorar e explodir pode até trazer uma leveza momentânea, mas Nasc
garante que a prática só fortalece seus impulsos agressivos. Um copo com água e
um respiração profunda valem mais do que este conselho.
6. “Busque um novo amor para curar
uma desilusão”
Um
clássico conselho que o pode levar a um novo desastre amoroso. Depositar as
frustrações e esperanças no novo pretendente poderá sentenciar a relação ao
fim. Para os especialistas, a melhor ajuda nos casos de desilusão amorosa é
indicar ao amigo programas atraentes que não exijam um companheiro amoroso, mas
apenas amizades e gente interessante (que pode vir OU NÃO a ser o próximo
envolvimento. O importante é não criar expectativas nem colocar o(a) amigo(a) num período aberto de “caça”).
Como
se vê, muitas vezes vale mais assumir que não tem condições de ajudar com
palavras (indicando alguém que possa ou se dispondo a procurar junto com a
pessoa uma solução) do que dizer qualquer coisa, achando que foi útil ou
simplesmente descarregando a consciência. Ninguém pode saber tudo, estar sempre
preparado, nem ser o Oráculo de Delfos, com suas respostas incisivas (para quem
soubesse decifrar o que se dizia ali, é claro). Tem horas que apenas estar ao
lado, confortando com a presença, abraçando literal ou figuradamente a pessoa,
vale mil vezes mais do que “aconselhar”. Afinal, o que é remédio para um pode
ser veneno para os demais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pelo seu comentário