quarta-feira, janeiro 27, 2016

A mochila nas costas




Meu irmão Sandro, a quem amo demais da conta, sempre dizia que eu andava com uma mochila nas costas. Quando é o Sandro falando algo, temos sempre que buscar qual é o significado que está dando às suas palavras, porque ele tem um dicionário exclusivamente criado por ele. “Mochilas nas costas” significa que eu era uma sonhadora, dona de muitos projetos e ideais que eu procurava realizar. Como líder de jovens e discipuladora, eu estava sempre procurando algo novo para fazer, e naquele tempo eu esbanjava energia, tempo e criatividade. Era “ligadona”.
Mas o tempo, esse que recebeu o poder de ser soberano, passou. E a vida trouxe suas dores, e eu coloquei a mochila dos sonhos no quarto de despensa da minha alma, como a gente coloca tranqueira em quarto de despensa em nossa casa. E lá deixei a mochila por tanto tempo que até quase me desacostumei de sonhar. Contudo, fui ficando cansada... senti que não conseguia mais andar... pensava “Senhor, o que acontece comigo?”. E certa manhã, lendo que Deus nos convida a encontrar descanso Nele, percebi que talvez eu devesse estar com um problema muito sério. Deixa eu explicar: sempre que não consigo viver como a Palavra diz, creio que o problema está comigo ou em outro lugar, mas nunca em Deus. Aprendi que Seu caráter é bom, a despeito do que eu vivo.  Então comecei a orar... ah! esse negócio de orar funciona, mas dói. 
Fui percebendo que muitas das verdades que eu acreditava, não eram verdade na minha vida. Fiquei abalada comigo. Que distância é essa entre o que cremos e o que vivemos? Acho que a lua é mais perto.
Então me rendi, aceitei, é isso que sou, alguém muito longe de viver o que acredita. Mudei minha oração, passei a prestar atenção em Deus, e dizer “estou aqui, não posso descansar, mas eu sei que tudo podes, eu não posso nem ao mesmo sentir o que creio, mas eu sei que o Senhor criou o mundo inteiro e isso é nada para o Senhor fazer”. Sentia-me humilhada no início, com vergonha, como é difícil reconhecer quem somos, é uma dor que não pode ser compartilhada.
E por muito tempo ouvi o silêncio de Deus.
E o tempo seguiu... sem perceber, de um jeito que só o Criador sabe fazer, comecei a sentir Seus braços ternos me envolverem. Ele me trouxe amigos, trouxe-me terapia, trouxe-me textos bíblicos, palestras, Ele me trouxe trabalho, Ele me trouxe os sonhos de novo. E bem devagarzinho a energia para viver voltou, e eu entrei naquele quarto para jogar as tranqueiras fora, e descobri lá minha famosa mochila de sonhos que tanto meu irmão falava. E como uma criança diante de um brinquedo novo, abri correndo os seus bolsos e vi os sonhos escritos, e me sentei no chão desse quarto, com o rosto molhado em lágrimas e me recordei do tempo em que sonhar era um rotina diária. E fiquei ali me perguntando se havia tempo para viver alguns desses sonhos, ou se aquelas palavras antes escritas tinham se perdido no tempo. De repente, me assustei, o que eu estou fazendo aqui, perdendo tempo? 
E tirei os sonhos para fora, os que são possíveis agora, e pus minha mochila nas costas...
E saí... confesso, agora, bem mais feliz.
Dessa mochila, hoje, retirei o meu livro, que está aqui comigo, para ser corrigido e impresso. E em breve vocês pegarão na mão um dos meus sonhos esquecidos.


2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Texto gostoso de ler! Eu me identifiquei com muita coisa implícita nele. Agora mesmo estou aqui pensando em um projeto atual que, se der certo, me levará a São Paulo e será a realização de um sonho na minha área de trabalho. Um sonho esquecido, como você disse, Roseli, e que agora eu devo retomar. Sinto-me honrado por ser agraciado com a oportunidade de te ler.

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