De longe vi os ventos a tocar seus cabelos brancos. Fiquei a imaginar que o tempo em breve tingiria os meus e, tive medo. Não da cor de neve a cobrir minha pequena cabeça no futuro breve, mas de ter perdido tempo em viver o que não desejava. Talvez fosse um medo imaginário, sem nenhuma possibilidade de se fazer no real, mas que me abraçou com força.
Peguei minha caneta, já um tanto esquecida e sai em busca da escrita. Assustada percebi que não encontrei as palavras. E gritei quase em desespero, 'palavras onde estão? Foi quando percebi que minha alma se negava a soltar para os dedos os seus segredos. E, senti-me só de mim mesma.
De repente você se levantou e veio em minha direção. Fiquei a contemplar seus cabelos já bagunçados pelos ventos. Sentou-se ao meu lado como que compreendendo a minha inquietação, embora palavra alguma fora proferida por mim. Em silêncio ficou frente ao turbilhão da minha alma.
Então não contive minhas lágrimas. E a alma antes tão distraída, se fez presente.
Você silenciosamente me olhava. Pensei em lhe narrar onde estava meu coração aflito, mas as palavras me pareciam tão desnecessárias, frente a ternura com que me embalava.
Sem saber o tempo que passara, vi que meu coração se acalmou frente a falta de pergunta em seus olhos e lábios. Compreendi que os ventos que impelem os barcos ao mar alto, sopraram com toda sua força, mas estranhamente me levaram ao porto invisível dos seus braços, ainda que seus braços não me abraçaram.
E ali ficamos juntos. Nada falamos.Tudo foi dito.
E você com seus cabelos brancos se despediu sem nenhuma palavra. E fiquei vendo-o sumir na multidão das pessoas que me cercam sem me ver. E o medo se desprendeu do meu coração. Descobri que viver é se deixar levar pela beleza da ternura dos olhos daqueles que nos amam sem nenhuma amarra.
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