Tomara que esse muro pintado pela
metade, e não terminado, com a tinta e o pincel de cerdas grossas nele
encostado, não seja parábola da vida.
Conta-se na mitologia grega, que
Sísifo, rei de Corinto, após enganar duas vezes a morte, foi condenado pelo
deus Zeus, a rolar uma pedra até o cume da montanha, porém, sempre que a pedra
estava chegando lá, ela rolava montanha abaixo, e Sísifo tinha que voltar e
levar a pedra novamente, e assim por toda a eternidade1. Triste
sina!
Porém, diferente de Sísifo a rolar
por toda vida a mesma pedra, parece que muitas vezes vivemos a maldição de
rolar pedras novas, de projetos que nunca serão terminados, tornando-nos
colecionadores de planos inacabados.
Entretanto, não é preciso muita
alquimia para compreender a bruxaria... Os
“coaches” do nosso tempo insistem que para quebrar esta maldição basta uma
atitude, ter foco.
Mas, ter foco não é fácil hoje em
dia. O mundo está povoado de distrações... E podemos nos tornar pessoas que tem
na casa, no computador e na alma, uma despensa com as estantes abarrotadas, das
paredes ao teto, por projetos incompletos.
Corremos o risco de não termos
títulos em nossa biografia, nem diplomas na parede ou guardados em pastas. É
que os cursos começados e não terminados, geram apenas os “mas” da lamentação. Na
meia idade é difícil vencer o desânimo ao ver o dinheiro gasto, o tempo
perdido, a energia gasta em algo que não se fez, a denunciar o desperdício.
Tantas vezes é possível ficarmos
paralisados a olhar os projetos em vez de executá-los, gastando tempo, que não
sabemos o quanto temos.
Cuidado ao esquecer a tinta
encostada no muro ao lado do pincel de cerdas grossas.... Podemos estar vivendo
uma maldição pior do que a vivida por Sísifo, a de não ter foco.
É mesmo lamentável tantos sonhos
pela metade engavetados... A fazer correr pelos olhos da alma a tristeza do
aborto de tantas colchas de retalhos, bordados, livros, desenhos, cursos, jardins,
quadros, roupas, viagens, hortas, blogs...
Sísifo não tinha escolha, mas nós
que pretextos temos?
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