É quarta-feira, sigo falando sobre o perdão.
Certa vez uma colega contou-me
que se arrependia muito do “sim” no dia do seu casamento. Esta, soube na semana
próxima a cerimônia que não deveria se casar, mas não teve coragem de terminar
o noivado. Os anos se passaram, e hoje casada, tantas vezes olha para o
passado, a suspirar a angústia de uma relação, cujo os corações não se
encontram. Na viagem da vida é sempre possível pessoas ficarem angustiadas por
não terem obedecido o saber que sinalizou a melhor estrada, provando o
terrível destino do “sim” quando gostariam de ter dito “não”.
É possível também encontrar pessoas entristecidas por terem quebrado seus próprios princípios. Para estas, não há descanso, ainda que achem motivos que justifiquem suas escolhas. Ficam a repetir: o que fiz? Deixando de acreditar que ainda tem jeito, ainda há tempo, se tornando vítima da escolha que foi ré.
É possível também encontrar pessoas entristecidas por terem quebrado seus próprios princípios. Para estas, não há descanso, ainda que achem motivos que justifiquem suas escolhas. Ficam a repetir: o que fiz? Deixando de acreditar que ainda tem jeito, ainda há tempo, se tornando vítima da escolha que foi ré.
Há um outro grupo de
pessoas que ao não encontrar razões em suas próprias razões, entra em um ciclo vicioso
em que a culpa é alimentada.
E a culpa, companheira
má, vai paralisando o aflito na medida que o prende ao seu passado, fazendo com
que o passado ocupe o presente, de tal forma, que a pessoa perde a capacidade
de ver o que pode ser feito no “agora”.
Desconfio que a culpa é
narcisa. Ela convence o réu a ficar com o olhar fixo no erro cometido, até que
ele morra afogado na dor de não ter feito o que julgava certo, se tornando juiz
implacável de si mesmo. Ainda que esteja arrependido, este não consegue
encontrar o perdão que o libertaria, portanto, não aprendeu que na vida todos
vão errar em alguma etapa. Todos terão que refazer a rota em algum momento da
viagem, pois o GPS do coração não funciona de forma tão precisa. Todos.
E haverá momentos que
se acreditará estar na direção certa, entretanto, logo à frente ou um pouco
mais distante, este descobre que foi enganado pela sua percepção, ou pelo seu
saber não sabido, ou pelas suas expectativas. Haverá momentos que se decidirá
pela rota mais curta, até descobrir que não tem jeito de chegar no destino
almejado. Haverá momentos, que a rota escolhida é a certa, mas, em um ponto do
caminho, um desvio... não era isso que queríamos. Haverá momentos que a rota
vai apresentando obstáculos tão grandes no decorrer do caminho que a opção é
desistir ou desfalecer.
Todos erraremos em
algum momento. Todos. Teremos que refazer a rota. Ninguém pode experimentar uma
vida com paz e alegria acusando–se o tempo todo do que fez ou do que deveria
ter feito.
Não se condena a falta
de perdão o arrependido, ainda que este seja você.
Quem não perdoa a si
mesmo, quem só enxerga os erros cometidos, vive o inferno do não recomeço. Para estes, podemos apontar o perdão dos
céus, entretanto, dizem não merecer. Se ofertado é o perdão dos humanos,
desconfia da bondade por não conseguir ser bom consigo mesmo.
Então se você errou,
assumas tua culpa, no entanto, não deixe ela adoecer você.
Pare com esta história
de ficar brigando com o passado. Porque casei? Porque fiz este negócio? Porque
não fui? Porque fui. Pare! Todo arrependido merece começar de novo. Aprenda que
o erro assumido guarda a beleza da experiência. A experiência é a oportunidade
da correção de rota para quem decidiu viver sem as lentes da acusação. Na vida
é sempre possível refazer ou encontrar uma nova rota.
A viagem com destino ao
perdão não deve ser feita apenas com o propósito de perdoar aos outros, se necessário,
faça-a para perdoar a si mesmo.
Roseli de Araújo
Psicóloga clínica
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