A vida adulta intermediária compreende o período dos quarenta a sessenta e cinco anos, é também chamada de meia idade, ou segunda adolescência1.
Nesta fase experimentamos mudanças significativas no corpo. Tanto os homens quanto as mulheres.
As mulheres vivenciam a menopausa – onde se encerra o ciclo menstrual e ovulatório. O final deste ciclo pode ser desconfortável por causa dos sintomas que provoca, dentre eles: insônia, alteração do humor, ondas de calor e diminuição do desejo sexual.
Os homens percebem um declínio na sua força física e o desempenho sexual também não é mais o mesmo. A ereção pode surgir e desaparecer em uma relação sexual mesmo que ele esteja excitado, a ejaculação durante o ato sexual pode não ocorrer e nem sempre se sentirá disponível para o sexo2, o que pode assustar muito.
Nesta fase, os filhos vão embora, os cabelos branqueiam, as rugas ficam mais acentuadas, netos nascem e muitos se aposentam. Em outros contextos, filhos adultos retornam para casa dos pais por causa de problemas financeiros ou divórcio. Também, filhos podem se tornar cuidadores dos seus pais.
O adulto de meia idade compreende que o tempo é produto escasso, e a juventude não é eterna. Surgem então, os questionamentos existenciais, agora, o olhar que se fez para fora se volta para dentro. Tal experiência pode ser perturbadora, afinal, qual é o sentido da vida? Trabalho, família, profissão? Fiz o que queria? Se vamos morrer... para que acumular coisas? Dará tempo de realizar o sonho não realizado?
Há aqueles que não aceitam o relógio biológico e procuram manter a juventude a todo custo (coisa comum de se vê nesta sociedade de consumo que vende a beleza em cada esquina). Para estes a idade é sigilo.
O que se espera socialmente é que seja tempo de colheita, isto é, de desfrutar do que já foi plantado. Seja no casamento, seja no trabalho e nas relações sociais.
A meia idade, portanto, pode ser tempo de balanço, e este pode trazer a tona questões de identidade não resolvidas. Se avaliarmos os diferentes papeis sociais que cumprimos ao longo da vida - ser filho, ser pai, ser mãe, ser profissional – e percebermos que não correspondemos as expectativas, é possível que se instale uma profunda crise existencial. E dependendo do que se construiu ou não, a meia idade pode trazer um desespero.
O que não foi feito é lamentado. Portanto, podemos correr o risco sério de manter o olhar no passado que não voltará – o que poderá paralisar o impulso criativo e predispor a depressão.
A vida não é tarefa fácil. E somente quem ao longo do tempo foi desenvolvendo a resiliência3, conseguirá lidar com a realidade da morte, que nos faz ver nossa finitude e impotência.
Então, a você que se encontra nesta fase, cuidado. Não fique a lamentar o que não conquistou. A dizer que não dá tempo. Ouça o conselho de Salomão:
“Os teus olhos olhem direitos, e as tuas pálpebras olhem diretamente diante de ti. Pondera a vereda de teus pés, e todos os teus caminhos sejam bem-ordenados! Não declines nem para a direita nem para a esquerda; retira o teu pé do mal”4.
Penso que há uns males que precisamos retirar os pés: O deixar para amanhã o que podemos fazer hoje, culpar os outros pelo que não conseguimos, não ser capaz de viver a vida dentro das possibilidades oferecidas, não ser capaz de estabelecer fronteiras – o que é meu e o que é do outro-, tentar responder todas expectativas daqueles que nos rodeiam, achar que sabe tudo, carregar mágoas, não aceitar a partida dos que morreram, não respeitar a si mesmo quando o outro diz não te amar, se acostumar com o gosto amargo de viver sem esperança e viver a reclamar sem nada fazer para encontrar a mudança.
Porém, se os teus olhos em algum momento olhar direto, e o medo, porventura o prender, se o peso do tempo lhe fizer arrastar o que não queres, se rebele com a forma que você tratou sua vida até aqui, e não desperdice o pouco tempo que acredita ter.
Embora, na meia idade, nossas fantasias se calam diante da realidade caótica, a vida é um presente ofertado hoje.
Roseli de Araújo,
Psicóloga clínica
- Papalia, E. Dhiane;
- Resiliência: capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças.
- Provérbios 4:25-27
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