Jesus, em um momento transcendental maravilhoso, onde
ouve Deus, o Pai, lhe falar do seu prazer em se relacionar com Ele, é levado
para um lugar de difícil habitação, o deserto. Lá, fica por 40 dias em jejum,
cercado de animais selvagens, e no término destes dias, ainda recebe a
inoportuna visita do inimigo, que lhe apronta ciladas para o ver cair1.
E Jesus transita entre a experiência do sagrado e a do
deserto sem se perturbar. Do momento maravilhoso para o desagradável, os evangelhos
não têm registros de nenhuma palavra, tais como: “eu sou cara” ou “ nossa o que
eu fiz para merecer isto”. Considerando que eram situações peculiares e capazes
de provocar muita euforia ou desespero, a impressão que fica é que Jesus passou
por elas com um equilíbrio emocional, não comum aos seres humanos.
Se eu estivesse em seu lugar seguramente ficaria confusa
em passar pela experiência maravilhosa de receber o Espírito Santo, ouvir Deus
Pai e logo após ser levada para uma experiência de sofrimento, em um lugar
difícil e com o inimigo aprontando situações para que eu viesse a cair.
Por isto, vendo Jesus, perguntas brotam, o que o fez não
se ensoberbecer? Quem falava com Ele era o Deus Pai, e suas palavras foram
sobre a alegria que sentia por Ele. Nós, se vivermos uma experiência bem menos relevante do que esta, com certeza vamos pensar, ‘eu sou o cara’! Se percebermos que agradamos,
passamos a crer que o mundo ganha em nos ter. Sabemos que a humildade
não é decoração natural nos seres humanos. Para adquiri-la é sempre muito anos
de jornada e muitas quebras da alma.
Por outro lado, o que o fez não reclamar do deserto, dos
animais, do inimigo? O que o fez não se apavorar com o sofrimento? Sendo este
sempre o lugar das perguntas complexas sobre a existência, para o ser humano.
Diante do não
compreendido, esbravejamos; Somos dominados pela ansiedade diante da falta de
controle do futuro; Não aceitamos colheitas de frutos ruins quando temos
certeza de não termos semeado.
Não sei você, mas eu não quero ser levada para o deserto
e nem para a presença de inimigos. Amo a vida e espero que ela seja um bolo
pronto onde eu possa desfrutar apenas o chantilly, o açúcar de confeiteiro, o
recheio de chocolate. Nada de bater a massa. Ser batido dói.
Porém,Jesus aceita o bolo da vida, completo. Vive o
momento do êxtase tanto quanto o momento do deserto. Aceita com alegria, sem
pretensão, ser reconhecido, e, também aceita ser batido e passado pelo calor do
fogo, sem murmuração.
Estas experiências acorrem com Ele antes de escolher seu
time de trabalho, os doze discípulos. Elas nos falam que Jesus está pronto para
começar sua jornada pública. Ele vai viver momentos de glória, onde vai curar,
libertar e ser aclamado pelo povo. Contudo, vai enfrentar a dureza dos
corações, a incredulidade. Não lhe faltará inimigos, será
perseguido e traído.
Olhando-o de perto, desejo muito aprender com Jesus aceitar
o bolo da vida completo, pois ele é massa feita de risos e lágrimas.
Roseli de Araújo
Escritora e Psicóloga
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