Quando algo por dentro já não é o mesmo, tudo muda.
Desde que minha mãe partiu, sinto que não sou mais a
mesma. Até o ambiente já não parece ter as mesmas cores. A casa dela, a qual,
hoje, eu moro, já não a reconheço. E o que era tão familiar agora parece
estrangeiro.
Um dia depois do seu enterro, ao acordar, uma sensação de estar perdida me invadiu por inteiro. Pensei, e agora? Fiquei deitada ali, buscando dentro de mim razões para poder levantar.
Impressionada com a roda da morte que parecia ter atropelado muitos dos meus olhares para a vida, sai da cama. Naquela manhã, eu tinha agendada uma sessão de psicoterapia. E ao abrir o computador, sabia o que compartilhar com minha psicóloga. Ao terminar a sessão, entendi que minha mãe, embora tivesse partido, seguia dentro de mim. Então, agora, presente apenas em mim, a forma de me relacionar com ela mudou para sempre. E ao compreender o que mudou, vi que tinha chão para seguir.
De vez em quando, me pego conversando com minha mãe.
Pergunto: Por que foi tão cedo? Às vezes, digo para ela: sua casa perdeu a
alegria sem suas risadas. No início, sentia que não estava certa ao conversar
com ela. Mas aprendi que converso com a mãe que ficou em mim.
A verdade é que tenho aprendido com as pessoas que já
perdi que sempre vou amá-las. Embora o amor que nos uniu me tornou vulnerável e
trouxe muita dor quando partiram, sei que a vida teria sido vazia sem o amor por
elas.
Esse saber calou e cala a minha alma, mergulhando-me num
silêncio que se tornou a minha mais confortável poltrona.
Sim, a morte é muito dura. Ela bagunça a nossa vida por
inteiro. Contudo, mesmo atropelando nossos olhares pela vida, ela nunca será
maior que a vida recheada de amores.
A Deus toda a gratidão pelas pessoas que amei, amo e
amarei.
Roseli de Araújo
Escritora e Psicóloga clínica
Verdade! Texto lindo
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