Sinto saudade
de você pai, ainda que esteja aqui. Saudade do riso de graça, dos passeios nos
rios, das viagens esperadas com paradas para lanche, dos doces quando chegava do
trabalho, da cantiga do serrador, das rodas com violão e sanfona.
Por vezes, me
vejo procurando-o. Para onde foi mesmo? Não o encontro mais. Então percebo que
todas as minhas lembranças ficaram perdidas no meu mundo da infância. E pergunto a mim mesma, o pai da infância onde esta?
Agora, confesso
não gosto muito, hoje, do que faz. Não quer mais uma conversa de mão dupla, e
tem como único assunto a si mesmo. Não traz mais os doces, antes cobra até o que
já tem. Não mais reúne rodas de pessoas, agora vive isolado na sua caverna. Não
senta a mesa nem mesmo em dias de festas, preferindo, na maioria das vezes,
seus programas na televisão... E fico com a impressão que se perdeu do mundo
dos afetos.
Hoje, também,
já com cabelo brancos a tingir minha cabeça, muitas vezes, escuto minha criança
a reclamar a saudade do pai. E uma dor
emerge ao sentir que o afeto se dissipou com o tempo.
Todavia, sei
que nem tudo que sinto é uma verdade. Somos o que conseguimos ser. E reconheço
que me deu muito além do que recebeu dos seus pais. E, tenho orgulho de ser sua
única filha.
Então, calo minha criança, ao reconhecer que ainda é meu pai do jeito que sabe ser. E do seu jeito, ainda foi, é e sempre será, o pai que preciso.
(Texto de uma paciente)
Profundo… As vezes nos perdemos e nos esquecemos que podemos estar deixando saudades .
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